woensdag 14 december 2011

O Casamento do Pata

                                     

É que eu sempre tive vontade de escrever esta estória mas nunca parei prá pensar no Santo. Que Santo, meu? Assunto! Assunto é a palavra que eu digitei mas este computador burro e teimoso fica me corrigindo as coisas, acrescentando aqui e ali as tolices dele, como se já não bastassem as minhas. É que o coitado pensa em holandês e vai traduzindo do jeito dele este meu vocabulário. Assunto vira Santo, casamento, lamento, e assim por diante. Mas tudo bem, eu descorrijo-o e sigo em frente. O Pata se casou acho que foi em fevereiro, num dia de sol bem quente numa cidadezinha do interior de Minas, Coronel ou Conselheiro não sei do quê. No dia anterior os amigos tinham feito a tal despedida de solteiro dele, e corriam avidamente esvaziando todos os freezers e geladeiras que encontravam pela frente. Eu me lembro de ter dançado o "Bandeira Branca Amor" com uma vassoura de piaçava no meio de algum salão. De repente apareceu dobrando a esquina uma carroça de aluguel trazendo um moço barbudinho com uma cara de castor, ou um desses roedores todavia hippies, alguém gritou "Pô olha lá, essa festa vai ser de arromba, veio até o Ratinho!". Ele assim como mais da metade dos convidados que ninguém convidou. Eu era irmão do noivo e nunca fui paparicado tanto assim por estranhos em outro casamento nesta vida. Gostei muito, até que um dos amigos do Pata entrou numas de dar em cima da minha mãe, que naquela época pensando bem devia ser uma viúva cinquentona de parar o trânsito. Não que em Coronel ou Conselheiro não sei do quê tivesse trânsito algum naquela tarde ensolarada de verão, com exceção da carrocinha do Ratinho. O cara se encostou em mim, me trazia empadinhas, churrasco, latinhas de cerveja gelada, e depois ficava parado babando do lado da coroa, "Poxa não sabia que o Pata tinha uma mãe tão distinta assim". Distinta o cacete, ele queria era à todo custo agarrar a minha velha, que Deus a tenha, ficou deveras lisonjeada com os avanços apaixonados do rapaz. Eu fiquei com ciúme. Mas depois me esqueci e fui acompanhar o Ratinho que tinha achado um máquina dando sopa e estava agora dando umas de fotógrafo. A noiva até que era bonitinha e tinha trazido uma amiga de olhos verdes muito linda que parecia a Gal Costa, mas com as pernas bem cabeludas, acho que o sovaco também, só que emanava um perfume gostoso de patchouli. O Ratinho encostou nela, eu me encostei também. Pelo cheiro alguém andou fumando maconha lá atrás no corredor. Eu fiquei na minha. Ah, como eu queria ter dançado um bolero com a Gal naquele dia de festa mas acabei com a vassoura.
A cerimônia, como tudo naquele matrimônio inusitado foi muito embolada. Primeiro a despedida de solteiro do rapaz e da moça, depois acabou virando prá festa, e no outro dia a cerimônia religiosa na igreja.
Um tal de Paulinho que era a testemunha de honra do casal entrou catando cavaco na igreja e caiu de bunda numa moita desses arbustos vermelhos repletos de espinhos, coroa de cristo acho que é o nome. O Ratinho quis tirar os espinhos com uma pinça improvisada mas o outro ficou brabo, disse que assim não dava, pois o Ratinho estava passando a mão, e acabou preferindo deixar prá depois que a Ângela iria tirar em casa quando chegassem.
Quando a noiva entrou toda bonita o tocafitas da igreja enroscou e alguém puxou o " tonto tontom, até que enfim, até que enfim, achei um trouxa que gosta de mim". Minha mãe sorriu e cantou alegremente, penso que lembrando do próprio casamento com o velho Maroca lá pelos idos de 1947, o moço apaixonado da fileira de trás também cantou-a. Eu que sou um cara encabulado cantei em voz alta, todo mundo cantou, menos o padre, um carequinha espanhol de bigode que pelo jeito já estava ficando meio cabreiro.
Prá completar as coisas o Ratinho me aparece lá atrás no altar com a tal máquina fotográfica dele na mão, tropeçou numa cadeira e derrubou todos os castiçais e as velas no chão. O Padre ficou muito puto e deu um esporro daqueles no noivo, na noiva, enfim em todos os demais presentes. Eu curti demais aquilo tudo. Parecia um filme do Felini, coisa de gibis. O Pata pediu as desculpas dele, com um sorriso meio amarelado procurou em desespero no bolso do paletó o anel. Não tinha trazido. O Ratinho tirou o dele, um desses de caveira de brucutu e passou em frente. Na porta da igreja o próximo casal esperava apressado a vez deles de entrar naquele palco. O Padre encurtou a cerimônia pela metade. Um japonês com nome de Bóia abriu o porta-malas de um chevete velho e soltou três caixas de rojões bem em frente da igreja.
A carrocinha amarela de aluguel do Ratinho apareceu numa curva e levou os noivos prá lua-de-mel deles. Eu fiquei parado à sombra de um flamboyant vermelho florido, ouvindo os fogos de artifício do Bóia, pensando em escrever esta estória e esperando pela Gal que nunca apareceu.



Joe Paz

16.12.2011

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