dinsdag 20 mei 2014
Passatempo
Foi no balneario de Camboriu que o grande e saudoso Nerso meu tio um dia saiu com isso
ou seja, inverter a ordem dos ditados populares de entao. Chovia sem parar, deixando as ruas de paralelepipedos cobertas numa enxurrada diluvial ate entao nunca presenciada por mim menino. Entupiram-se todas as bocas de lobo das calcadas com restos de lixo, pedacos de pau, folhas, enfim tudo boiava a nossa frente naquele domingo inesquecivel de ditos populares nunca dantes embaralhados. 'De pouco e de louco todo mundo temos um medico' ainda meio encabulado arrisquei um meu, Nerso gostou, tirou os olhos do livrinho de palavras cruzadas e me deu um sorriso. Ele e minha mae eram loucos por palavras cruzadas e os melhores que ja encontrei no meu idioma patrio. Era um dos mais dificeis, daqueles que a gente comeca, rabisca aqui e ali, busca ajuda de cabeca pra baixo, depois enche o saco e acaba em qualquer canto da sala ate vir alguem resolve-lo. 'Agua dura em pedra fura tanto bate ate que mole' minha irma adicionou na lista, que alguem escrevia num pedaco de papel de embrulhar pao. Ja estavamos chegando quase nos cem, e so os melhores passavam pelo controle de qualidade do velho Nerso. Pensando alto ele falou com seus botoes, 'Deusa grega da beleza, com oito letras?. Estava na ponta da lingua mas nao achava. O Mirtao passou pela geladeira, abriu uma latinha de cerveja e veio ao socorro, 'nao seria Afrodite, por acaso?' Nerso conferiu com as horizontais e batia. Grande Mirtao, obrigado. A chuva continuava a cair, uma cobra verde passou surfando com a cabecinha de fora na correnteza, coitada alguem caiu de pau em cima dela. Assustada e quase afogada sumiu por detras de umas moitas de taroba.
O sol nao aparecia, la longe dava pra ver as ondas encrespadas enormes quebrando em frente aos predios.
Uns argentinos passaram de barco de borracha pela rua deserta e pararam em frente a padaria. 'Papita, mamita' imitou-os o Nerso, que se enroscava em mais uma curva de seu passatempo predileto. Esta era dificil demais, 'rio europeu que atravessa o maior numero de paises?' E da-lhe todo mundo em volta dele a queimar os respectivos neuronios. Dona Tereza estava certa que era o Volga, mas nao cabia. Ficamos la um tempao olhando a chuva e pensando. O Mirtao passou com mais uma latinha e deu o seu palpite 'cabe o Danubio?'. Na mosca, o Nerso agora o aplaudia e fazia reverencias, 'Poxa, eu nao sabia que o Mirto tinha um conhecimento tao grande e variado assim, gente!'. Eu queria que aquele tempo parasse ali, na felicidade simples daquela tarde de domingo entre os meus familiares mais queridos.
Chegamos ao centesimo ditado trocado 'Em terra de rei quem tem olho e cego'. Mirtao fechou com chave de ouro mais umas duas paginas do quebra-cabecas do Nerso.
No finalzinho da tarde o sol apareceu, uma loirinha de biquini filha do padeiro arriscou a ir ate a praia. Eu fui seguindo-a apenas com os olhos. Mirtao foi tirar uma soneca, depois desceu com uma revistinha de quebra-cabecas embrulhada que tinha todas as solucoes para os problemas do Nerso. Na falta de couve mamae refogava as folhas da taroba com alho e cebola, cheiro e sabor de minha infancia que nunca mais lembrei, ate agora neste exato momento, que embora escrevo vou deixando tambem passar...
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