Literalmente falando saí do armário. Não consigo mais me esconder atrás de pseudônimos outrora inventados. Relatar, escrever sempre fez parte de minha vida, todavia, pouquíssima gente teve o prazer ou desprazer de me ler. É algo assim como ir desamarrando nós quase cegos que se embaralham nessas curvas de rio por debaixo desta cinquentenária careca brilhante. Uma ou duas pessoas me enxergaram de verdade por entre as milhares e milhares de outras almas quase literárias quanto a minha. Uma delas foi uma portuguesa professora de botânica na universidade. Devia ter uns sessenta e tantos, era magrinha, quase sumia, mas sempre bem cuidada, de unhas feitas, maquiagem, elegante e ao mesmo tempo brava como ela só. Botânica me interessava muito, mas futebol mais ainda, basquete, música, poesia, sem falar nas meninas bronzeadas de biquini nas piscinas da vida.
Pensando bem, confesso aqui, fui um desses camaradas que passou pelas escolas esperando pelo sinal.
A prova era sobre fotossíntese e absorcão radicular ou qualquer coisa do gênero. Eu havia lido os xerox emprestados rapidamente no ônibus, do Castelo Branco ao campus universitário. O anfiteatro era imenso, lotadíssimo, umas cem pessoas, aquelas cadeiras geladas que doem a bunda da gente, e feitas apenas para destros. Os canhotos que se virem, que se entortem todos, já são tortos mesmo. Fazia um calor infernal, o ventilador um barulhão daqueles. Eu estava apaixonado por uma japonesinha da fisioterapia, a Aniko, que menina meiga, e marcara um encontro na lanchonete. Fui o primeirão a terminar e sair correndo da prova. Entreguei meus rabiscos à portuguesa e corri rumo à porta. Não deu tempo de chegar nem na metade do corredor e ela gritou lá debaixo, abanando o meu teste como se fosse um leque, "miguelangelo, fizeste uma prova miserávelll!" Todo mundo rachou a rir, tem gente que até hoje quando encontro na rua ainda parafraseia a velha portuguesa com seu sotaque engracado. Fiquei encabulado, estava quase lá fora quando ela completou " muito bem sei que não sabes nadinha, mas tenho que te dar um 5,5 pois escreves tão bem!"
Passei pelas botânicas da vida, a velha portuguesa com certeza já deve ter até morrido, que Deus
a tenha, coitada, gostava de ler as bobagens fitológicas que eu escrevia, não sei porque fui me lembrar disso agora...
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