Eu sempre gostei de cantar. Desde pequeno perambulando pelos quintáis da minha infância tentava em vão imitar o Moacyr Franco ou as coisas do Roberto. Naquela época o radinho de pilha que a Cidoca, a empregada lá de casa deixava o dia inteiro ligado não parava de tocar o "Detalhes", logo depois "Cavalgada".
Sei lá porque quando lembrava do "Luzes da Ribalta" eu chorava, se não prestar atenção choro até hoje, quase quarenta anos depois.
Um dia o Mirtão apareceu lá em casa com um violão "trovador". Acho que foi meio por instinto, ou talvez por pura falta de ter o que fazer, que comecei a dedilhar as minhas primeiras coisas em cima dele. Dali prá frente nunca mais parei. Quando fico triste ou com saudades prá valer pego a viola e canto desafinado o "Gente Humilde".
Infelizmente nasci com as cordas vocais meio embaraçadas e por mais que queira ou tente, não consigo deixar nem uma única nota afinada pairando no ar, ficam todas assim como se batendo na trave, isso quando batem, pois a maioria é bola pro mato mesmo.
Assim sendo sempre sonhei em acompanhar uma cantora. Tinha na cabeça alguém com uma voz suave, meio sexy, cantando as bossa novas, onde eu iria com meu violão harmonizando tudo com acordes bem dissonantes, todavia lindos.
Nunca aconteceu, até andei colocando anúncios neste jornaizinhos musicais, pela internet, nada. Uns tempos atrás me apareceu uma cantora holandesa interessada. Marcamos um ensaio, quando ela chegou aqui na porta de casa era uma velha de uns 65 anos, parecia a tia Nice, e ela cantou o "Madalena" meio em ritmo de rumba mais ou menos assim: "a Matalena, o meu pecho percepeu" com uma voz rouca de fumante ou ex-fumante. Gravamos o "Matalena" dela mas ficou só nisso.
O tempo passou, eu já tava quase desistindo das minhas bossas, não é que me aparece o John, vou traduzir o nome dele, Jão Babuíno, cantor ex-roqueiro holandês que agora descobriu e cismou em cantar bossa novas comigo. Quarentão que nem eu, narigudo, parece a fotocópia do Juca Chavez, mas duas ou três vezes o tamanho dele, cabelão loiro quase até a cintura, sapatão nr. 45, um violão todo fodido, colado às pressas com durepox, emendado com parafusos. Como a vida muitas vezes não passa de uma selva, a minha um circo e o Babuíno canta legal, todas quarta-feiras a gente se diverte, fomos até convidados prá em junho tocar num restaurante daqui do vilarejo.
Geen opmerkingen:
Een reactie posten