vrijdag 11 mei 2012

Menina linda come a flor

A primeira música que eu me lembro bem de ter ouvido e cantado junto nesta vida acho que era do Renato e seus Bluecaps. E eu passava o dia inteiro pelo quintal cantando e cantando, todavia errado "menina linda come a flor", todo mundo tirava um sarro em cima e não entendia porque. Passei os primeiros anos de minha infância assim inocente sonhando acordado e imaginando uma linda menina moreninha de cabelos cacheados correndo pelo quintal e comendo flores vermelhas, brancas, azuis, amarelas. Não me lembro quantos anos tinha, mas a minha irmã mais velha ainda me dava banho dentro de uma velha bacia de alumíno que minha mãe usava prá "quarar" as zorbas brancas do meu pai. O velho Maroca era foda, na minha memória os sapatos pretos dele brilhavam mais do que os de qualquer outro pai neste mundo. Ele trabalhava como tesoureiro numa prefeitura do interior de São Paulo e acho que às vezes na pressa da manhã lustrava os sapatos com as ditas cuecas. Minha mãe queria morrer!
Lembro dele de manhã com a cara cheia de espuma e uma toalha enrolada no pescoço fazendo a barba já grisalha.  Um dia me ajudou a serrar e pregar uma caixinha de sapatos com os restos de peroba que havia no quintal. Juntei as latinhas de graxa marrom e preta, uma escova de dente, outra da cozinha,  um pedaço de espuma, alguns  retalhos de flanela que tinham sido algum dia pijama de algum irmão mais velho, e lá fui eu tentar faturar os meus trocos. Meu pai foi o meu primeiro cliente. Eu caprichava em cada milímetro daquele couro escurecido, fazia vir à tona toda beleza daqueles sapatos já tão castigados pelas infinitas caminhadas do meu pai entre casa e trabalho. Ficava um espelho e o velho sorria orgulhoso do filho e também dos pisantes dele. Sempre me pagava mais do que o necessário e eu ficava contente. Dona Tereza também, pois as velhas zorbas manchadas de preto sumiam da cesta de roupas do banheiro.
Sim, já fui engraxate e com muito orgulho! Engraxei pros vizinhos, amigos de bar do meu pai que apareciam lá em casa. Infelizmente a concorrência era muito grande e tirando os amigos e parentes,
quando aparecia alguém diferente lá na pracinha a molecada se ajuntava em volta que nem gavião, e até brigava prá ver quem ficava com o freguês.
Pensando bem já fui bem pobre, um monte de irmãos, papai bebendo tudo em cachaça pelos bares da vida, mas graças à Deus tal pobreza passou. Meus irmãos se lembram dele bravo, cambaleante,  quebrando pratos e xingando quem tivesse pela frente. Eu cá comigo gosto de lembrar daquele velho maluco como meu primeiro cliente e acima de tudo um amigo do peito. Saudades dele...


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