donderdag 7 juni 2012

Faxina mental e sombrinha quebrada

A culpa é do Osho, aquele barbudão maluco da seita "religiosa" o Rajneesh como ele gostava de se apelidar. Um dia vinte anos atrás mais ou menos lendo um livro dele que não me lembro mais o título, entrei numas de fazer uma limpeza interior e porque não dizer, exterior também. Naquela época eu morava em Rotterdam e vivia tocando meu saxofone pelas ruas, praças, bares, cafés, onde tivesse gente eu abria o estojo de couro marrom, jogava umas moedinhas dentro e mandava ver o "Carinhoso" prá matar as saudades do velho Brasil, e logo em seguida o "Brasileirinho"', presto, prestíssimo só prá me esnobar um pouco na técnica e execução. Os gringos ficavam babando e meu velho ego se inflava mais que um balão de São João. Minha mãe falava que eu tinha que tocar o "Tico-tico no fubá", que europeu gostava, mas esse choro é muito difícil e nunca passei da primeira parte, na segunda até hoje me atropelo nas notas e perco o fio da meada. Mas eu li o Osho e confesso que pirei um pouco na transa e nas idéias dele. Acho que a distância dos amigos, parentes, do meu Norte do Paraná querido, o frio dos Países Baixos, a melancolia das avenidas repeletas de neve, a saudade queimando no peito, tudo isso deve ter me deixado um pouco suscetível às barbaridades que ele falava, ou melhor escrevia.
Foi me dando uma paúra e peguei uns sacos de lixo que eles chamam de Komo Zak por aqui e joguei todos os meus antigos poemas, crônicas, papelada de cartas, solos do Charlie Parker que nunca consegui tocar mesmo, fotos de namoradas, etc, enfim queria me livrar do meu passado e de uma vez por todas.
As roupas velhas levei prá um asilo que ficava ali do lado. Vendi o saxofone alto Selmer Mark 6 serie nr. 98000, uma jóia que um dia houvera comprado lá em Londrina de um coveiro que tinha um irmão saxofonista famoso, um tal de Bauru. Custou um dinheirão prá  mandar reformar, pois o dito cujo estava em péssimo estado, servindo de brinquedo de crianças no jardim de terra avermelhada ausente de flores quaisquer. Trocaram as sapatilhas, molas, cortiças, deram um banho de prata todinho nele lá em São Paulo.Voltou brilhando como um sol prateado e as iniciais do Henri Selmer gravadas nas curvaduras perfeitas daquele corpo de metal que eu amava tanto. Mas segundo o Osho eu estava "sofrendo" demais nas minhas atividades musicais, e sobretudo na minha vida. A gente não deveria sofrer fazendo as coisas, mas infelizmente sofre demais. Sofro até hoje, buscar a perfeição é sofrimento na certa, mas tenho tentado não sofrer, principalmente na escrita. Quando me dá vontade escrevo alguma bobagem por aqui em forma de lembrança que ninguém lê. Depois de quase vinte e cinco anos longe do Brasil as regras ortográficas, semânticas do nosso velho português já não me aborrecem mais. Não tenho ferro de passar roupas nem dicionário. Ando amassado e finalmente livre pela vida .Todavia me arrependo um pouco de ter me desfeito do antigo Selmer e das doces lembranças que ele ainda me traz.
Algumas crônicas muito engraçadas de minhas escapadas pela Europa, alguns poemas de amor que eram lindos e por mais que tente fazê-los voltar infelizmente ficaram perdidos nas brumas das asas desta memória quase cinquentenária, ou foram incinerados em algum forno no porto de Rotterdam. Depois de me arrepender das coisas e ter lido o Osho até quase pela metade, fiquei com raiva do velho barbudo e arremessei-o junto com uma sombrinha quebrada nos dois passos de uma bandeja ou "jump" num "container" de construção que estava estacionado na esquina da rua Herlaerstraat com a Agniessestraat.




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