donderdag 21 juni 2012

A minha chácara nr. 11

Logo bem cedinho quando todo mundo ainda estava dormindo eu saia pelo pomar com os meus presentes. Primeiro olhava de um lado, de outro, prá ver se a mulher do seu Benvindo não estava de plantão lá na varanda dela, pois aquela velha era bisbilhoteira que nem ela só. Se me enxergasse agachado ali colocando aquelas garrafas com água no tronco das árvores e jogando aquele monte de doces pelo caminho, das duas uma; ou iria pensar que pirei na transa de vez ou estava fazendo alguma macumba prá ela. Com um olho na varanda dela e outro fixado no chão prá não pisar em alguma cobra ou aranha caranguejeira (no dia anterior eu tinha escurraçado com uma da minha horta de tomates, tentei dar umas pauladas na coitada mas felizmente ela foi mais esperta que eu e sumiu apavorada por debaixo de umas folhas mortas do abacateiro, mas era enorme de feia e peluda. Pro "aranho" dela devia ser a coisa mais linda do mundo.(Confesso tenho o maior medo de aranhas e qualquer outro arthrópodo cabeludo semelhante, escorpião então nem pensar...) Mas eu fiquei quietinho, com uma lanterna iluminando um pouco o caminho através do pomar de mexericas e distribuindo meus doces e pipocas. Jogava aqueles punhados de pipocas doces e exércitos de formigas cortadeiras emergiam alucinadas e cegas como que vindo de lugar nenhum, sentiam apenas o cheiro e mordiam com suas mandíbulas gigantescas aquelas pipocas macias e cor-de-rosas açuacaradas que eram para os meus meninos e meninas órfãos, e depois as colocavam nas costas como se fosse um saco de batatas que não pesasse nada e as levavam para os seus respectivos ninhos debaixo de algum toco apodrecido. Depois do terceiro dia fazendo minhas oferendas já estava acostumado com a cerimônia, com as formigas, aranhas escondidas e tudo mais, e eu nem dava mais bola prá mulher bisbilhoteira do seu Benvindo. Se quisesse olhar que olhasse, pensar que eu tivesse ficado louco que pensasse, fazendo alguma macumba prá ela que fosse. Pois aquelas oferendas minhas, hoje pensando bem, talvez tivessem sido alguma coisa em forma de macumba. Quando me olhei fazendo aquilo um lado meu ficou, o descrédito meio ateu, com muita vergonha, mas este outro crédulo, místico e cheio de fantasias ficou contente por estar ali ajudando alguém, mesmo que fossem do além. Nem estava mais com medo da velha escrava sentada no tronco da peroba. Ficava imaginando a velha fumando um cachimbão e agora finalmente sorrindo, comendo as pipocas e balas que eu deixava ali prá ela. Deu vontade até de deixar uma coca gelada, pois sei que velhas são loucas por coca-cola, penso que seja alguma coisa hormonal delas essa loucura de mulher por chocolates, caramelos e açúcares. Eu também era louco por doces quando pequeno, meus dentes de leite das fotos de criança estavam infelizmente todos estragados, apodrecidos e pretos pela falta de cuidado, escova e pasta de dente também. A gente era pobre e minha mãe dizia que dente de leite iria cair mesmo e os permanentes eram importante cuidar. Mas alguns de meus permanentes nasceram já meio açucarados por assim dizer. Ganhei uma ponte móvel com quinze anos, coisa absurda, sorte que minha querida irmã Cris, que Deus a tenha, trabalhava naquela época de secretária num consultório dentista e me deu uma escova nova e me ensinou a escovar os dentes direito, até a língua ela escovava com fúria. Acho que é por isso que tinha aquele sorriso maravilho que era só dela. Saudades da Cris... Saudades da minha chácara mal-assombrada, dos meus órfãos dos quais cuidei e alimentei até a Dona Rosa libertá-los de lá por mim. Só que tive primeiro que assinar mais um daqueles benditos checões meus, desta vez de 75, pois segundo ela a coisa era braba pro meu lado, e tinha que comprar mais velas, mais cachaça e charutos pro tal santo dela, que era, digamos aqui de passagem, um baita de um chato e parece que já estava reclamando um pouco do trabalho que a gente estava dando.

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