vrijdag 22 juni 2012

A minha chácara nr. 12

Aquele período da minha vida não deve ter dado apenas trabalho pro santo chato da dona Rosa, mas sobretudo para os meus próprios anjos da guarda, meus protetores. Pois acho que nunca precisei de tanta proteção como ali naquela hora. E confesso que pedi ã Deus prá me ajudar, guiar o caminho, afastar de mim aqueles males todos. Tenho a impressão que aquele lugar, aquela chácara, necessitava de purificação e havia de alguma maneira esquisita, talvez sobrenatural me conduzido à ela, e ainda hoje, quase vinte anos depois, não consegui entender os porquês. Não contei prá ninguém, mas tinha a plena certeza de que um dia, quando adolescente tinha passado por ali, parado junto com um primo meu prá roubar milho-verde no milharal de um japonês. O meu primo parou o fusca velho nun carreador, abriu o porta-malas da frente e mandou a gente, eu e um outro primo meu mais novo, arrancar correndo umas espigas e jogar no porta-malas do velho fusca desbotado. A gente foi com prazer, moleque nesta idade é louco prá fazer só coisa que não presta. Ele ficou de butuca fazendo guarda e fingindo que tinha algum algum pneu furado ou qualquer outro problema mecânico no carro. Dentro de poucos minutos o porta-malas estava abarrotado, repleto de milho verde saboroso, a gente até tinha feito uma daquelas nossas apostas bobas de moleque de quem roubava mais espigas em menos tempo. Confesso que ganhei, pois era um pouco maior e mais rápido que meu priminho menor, coitado acho que não entendeu bem que era prá roubar só as que estavam maduras, embonecando como a gente dizia, com os lindos cabelos louros querendo se enruivecer, pois depois se deixar secar ficam pretos e o milho duro demais prá cozinhar. Ele tentava arrancar até o pé do milho inteiro, com raiz e tudo. Eu o deixei lá perdendo tempo pois queria ganhar a tal aposta. Quando a gente estava quase terminando a nossa derriça o japonesão apareceu brabo com uma espingarda dessas de dois canos cortados por detrás de uma fileira de milho, quase tive um ataque-cardíaco naquele momento. Corri como um louco de volta pro fusca, mas o bicho correu também e parou bem em frente, furioso com sua arma apontada pro nosso lado. Pego assim no flagra, não tinha nem como me esconder do crime, o porta-malão estava lá carregado até a boca de milho. Juro que achei que ele iria dar um tiro na gente. Ali estava eu, com um futuro enorme pela frente, tanta coisa boa ainda prá fazer nesta vida, roubando o milho alheio. Mas o japonês tirou de dentro do boné um papelzinho amassado e entregou ao meu primo mais velho, que também devia estar cagando de medo daquela espingarda apontada pro lado dele. O japonês ficou imóvel esperando, com a mão esquerda no trabuco dele e na direita um lápis preto quase sem ponta. Foi só aí que saquei que ele tinha feito sei lá como um levantamento, ou seja, contado todas as espigas surrupiadas por nós e apresentava ali a conta! Olhando o tamanho daquele porta-malas carregado a tal conta deveria ter sido enorme de grande, o japa deve ter caprichado nos juros por perdas e danos das preciosas espigas dele. O meu primo tirou a carteira do bolso e pagou. A gente foi embora e ninguém falou um "a" no caminho. Quando chegamos em casa a minha tia ficou toda feliz e fez um panelão de cural de milho verde. A gente comeu, mas não sei porque, deve ter sido a tal amargura do ressentimento, aquele doce tinha um sabor esquisito demais...

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