zondag 24 juni 2012

A minha Chácara Nr 13 (capítulo final)

É sempre difícil dar um adeus, ter que encerrar uma fase na vida da gente. Até mesmo terminar de escrever a última página desta minha estória, que por pura coincidência do destino ficou sendo o capítulo nr. 13, mas não sou supersticioso. A minha supersticiosidade ficou enterrada comigo lá naquela chácara junto com as minhas galinhas francesas botadeiras e minha esperança de um dia ter sido agricultor ecológico. A idéia até que era boa, mas não foi prá frente, um pouco pela economia do nosso querido país que estava uma merda, outra pelos contratempos acontecidos comigo naquele lugar "mal-assobrado". O meu dinheiro de reserva estava acabando, e como não entrava nenhum apenas saia vazando prá todo lado como um saco de areia furado. Aquilo era um poço sem fundo. Mas fico contente por ter purificado aquele lugar, tirado as más energias de lá. Ficou limpinha, rastelada, varrida, com o pomar cheio de frutas e os troncos todos pintados de branco. Fiz com as minhas próprias mãos um enorme portão de madeira que envernizei todinho, fiz uma arco em cima e plantei já grandes de primaveras floridas. Ficou uma coisa linda. Coloquei-a à venda naquela sessão de chácaras e sítios da Folha de Londrina de domingo e fiquei esperando. O meu celular não parava de tocar e como os interessados nunca iriam achar aquele lugar escondido naqueles confins eu marcava de encontrá-los em frente ao Shopping do Catuaí e leva-los até lá. Depois do terceiro comprador eu já estava me parecendo com aquele corretor do primeiro capítulo, o João Telefone. Sorria, falava rápido, mostrava apenas as coisas que queiria mostrar, salientando as partes positivas, as benfeitorias, o asfalto que dentro em breve iria chegar por lá. Apareceu um japonês com um caminhãozinho fedido de bosta de galinha. Nem olhou o meu portão, as primaveras floridas, a horta, o pomar. Ficou lá no meio do meu gramado fumando um cigarro de palha, acocorado pensando. Falou que se eu abaixasse o preço ele comprava, mas foi sincero, disse que iria derrubar o pomar, acabar com a horta e fazer um depósito de esterco bem no meio da chácara. Fiquei imagindando aquilo, o monte do tamanho do Everest de merda de galinha fedendo e atraindo moscas varegeiras bem no meio daquela chácara. Como estava precisando do dinheiro e queria voltar com a família prá holanda confesso que levei em consideração a oferta dele. A mulher do seu Benvindo é que iria adorar aquele fedor ventando pros lados da cozinha dela. Depois veio um outro advogado com cara de bicha e todo perfumado me ofereceu a metade do preço que eu pedia. Levou o filho, um gordinho de óculos com a camisa nr. 10 do Palmeiras com cara meio de viadinho também. Ficaram ambos com uma bola de capotão novinha em folha controlando-a, ou melhor descontrolando-a, pois eram ruins de bola, bem do lado de minha horta. Se quebrassem algum dos meus pés de tomate eu dava uma porrada neles, me deu um trabalhão da porra prá cuidar daqueles tomates que estavam charregadinhos e tinha até precisado fincar uns bambus em volta e amarrá-los senão caiam pelo chão sob o próprio peso de seus enormes tomates suculentos e maduros. O viadão foi embora junto com o viadinho mas no outro dia voltou com a mulher. A esposa dele, uma loirinha oxigenada com cara de vagabunda nem me deu bom dia. Entraram pela chácara como se já fosse deles. Desta vez estava de terno e gravata, acho que prá me impressionar e teve a pachorra de assinar um checão e esfregar na minha cara. Queria bater nele, mas lembrei do João Telefone, corretor bom de verdade nunca fica bravo, pode até queimar por dentro, mas por fora tem que ser só sorrisos. Nunca se sabe onde a coisa vai dar. Na minha cabeça eu sabia que não venderia a minha chácara a ele, se eu tivesse que acabar vendendo então voltava lá na Dona Rosa e pedia prá ela fazer um trabalho bem dos fodidos e trazer de volta pelos menos a velha escrava por uns tempos prá assombrar um pouco a vida daquele pseudo-grãfino de uma figa. Enfim, deu prá notar, não fui com a cara dele. Eu devia ter recebido com ele falando em holandês, ou inglês, idiomas que falo perfeitamente. Nem peguei o cheque, gentilmente falei que iria pensar no assunto, mas mostrei o caminho do meu portão, que o fechei num sorriso diplomático desconhecido até então em mim. O Mirtão se estivesse ali iria ficar orgulhoso de mim, dei uma de perfeito corretor de imóveis. Mas duas semanas se passaram e muita gente veio olhar mas infelizmente ninguém comprou. O mato já estava querendo crescer de novo e afogar o meu pomar. Paguei pro Chico Bento capinar. Anunciei no domingo mais uma vez. Quando já estava quase desistindo recebi um telefonema de um rapaz. Ele veio nun corcel 2 com a esposa e a sogra junto. A velha deu uma voltinha pela horta, arrancou distraída um tomate maduro e comeu, passou pelo pomar e foi sentar à sombra da jabuticabeira que estava carregadíssima. Ficou lá, comendo jabuticabas e se abanando do calor. A primeira coisa que o moço me perguntou era onde eu amarrava a minha rede, eu nunca tinha amarrado rede nenuma, só trabalhado duro, pesado mesmo, naquela horta e naquele pomar. Mas dei uma de Migué e mostrei os dois abacateiros perfeitamente alinhados em simetria, com os troncos bem grossos, perfeitos prá tirar umas sonecas em cima de uma rede. Ele ficou feliz, coitado, se imaginou dormindo e sonhando os sonhos dele. A mulher olhou cada centímetro de chão e finalmente fez um sinal que aprovara. A velha derriçava minhas jabuticabas sem o menor pudor. Queria que desse dor-de-barriga e ela se entalasse com elas prá ver o que é bom. Mas prmeiro eu tinha que fechar o negócio, então sorridente virei prá velha e perguntei se não queria tomar uma água da mina. Mostrei o caminho e o rapaz foi lá, acho que prá fazer moral com a sogra, buscar uma garrafa d'água cristalina. A velha agraceceu num sorriso. Pensei cá comigo este peixe estava fisgado, agora era só trazer com cuidado prá perto do barranco e não deixar escapar. Felizmente ele não me escapou. Queria assinar o contrato ali na hora mesmo. Ainda me disse que a chácara era prá sogra, que iria ficar morando e cuidando. Fiquei imaginando aquele velha solta ali no meu pomar. Do jeito que comia vorazmente as minhas jabuticabas iria acabar com tudo. Não sobrariam nem os limões galegos. Mostrei os documentos e marcamos de nos encontrar num tabelião conhecido prá efetuar a venda e a papelada envolvida. O único problema é que ele queria depositar na minha conta, mas eu nem tinha conta em banco, pagava tudo em dólares que tinha trazido da holanda e ia trocando nas casas de câmbio semanalmente. EScreveu um cheque enorme de zeros, nem me lembro mais o valor, mas era dinheiro prá cacete. Fui à uma agência do Itau. Entrei e falei que queria em dinheiro. O caxia assustou; "Mas o senhor vai querer levar isso tudo em dinheiro?" Falei que sim. Ele foi chamar o gerente, que me levou a uma salinha ali do lado e me explicou que não tinha aquele dinheiro todo na agêncinha dele, era melhor eu depositar aquilo numa poupança. Expliquei que eu iria trocar por dólares e emigrar prá Europa. Ele pensou que eu estava louco de levar aquilo tudo, iria ser roubado na rua. Fiquei com um pouco de medo, mas não tinha outra solução. Voltei no outro dia e levei um balconista da loja do meu irmão prá me ajudar a contar a grana e carregar. Entramos os dois de bonezinhos prá não sermos reconhecidos lá fora pelos bandidos, pilhas e pilhas de dinheiro estavam em cima daquela mesa. O coitado do rapaz balconista nunca tinha vido danto diheiro amarrado em elasticos juntos. Começamos a contar, na terceira pilha aquilo me encheu o saco, deve estar tudo certo, se faltar cinquentão não vai fazer falta nenhuma naquela hora de abundância. Fiz de conta que contava rapidamente a quarta e quinta pilha, acenei que tinha conferido tudo e zerava. O caixa principal voltou com um papel e um carimbo. Assinei, ele controlou, assinou e carimbou, o gerente careca também. Joguei tudo dentro de duas sacolas, dessas que o Mirtão levava as marmitas dele prás pescarias um saco plástico das lojas Brsileiras e apressados entramos na velha combi. Mandei o rapaz olhar prá todos os lados prá ver se ninguém estava nos seguindo. Penso que não, dei umas voltas olhando pelo retrovisor e após alguns minutos a respiração de ambos foi se acalmando. O balconista ainda me falou, "putz essa sensação é que deve ter um ladrão de banco!". Com a marmita na mão ele sorriu, só Deus sabe o que se passava pela cabeça naquele momento. Deixei o bicho em frente à loja, agradeci pela força, arranquei umas notas daquele maço de dinheiro e dei a ele. O sorriso foi até às orelhas, nem pensei direito, mas aquilo acho que era o salário de cinco meses que o Mirtão pagava prá ele. Escondi as marmitas e os pacotes, os quais fui trocando por dólares nas semanas seguintes. Infelizmente o real estava como de costume muito ruim na contação. As minhas orgulhosas pilhas foram de repente sumindo rapidamente e só ficaram uns quatro maços de dólares esverdeados, sujos e suados à minha frente. A esposa levou dois escondidos nos sutiãs, eu o resto debaixo da cueca. Fomos de ônibus da Gracia de Londrina à São Paulo. De Guarulhos direto rumo à Amsterdã. Daquela odisséia só ficaram lembranças que levo comigo, umas boas, outras mais ou menos, outras muito ruins. Mas digo aqui a vocês, quem quer que sejam, onde quer que estejam, dei os meus pulos, levei os meus tombos, mas nunca me arrependi de ter vivido estes maravilhos momentos aí em Londrina naquela chácara "mal-assombrada" FIM

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