woensdag 28 december 2011

2011

Passos, passagens,
oásis, mirangens,
momentos eu sou,
coisas sem sentido,
aprendo de ouvido,
canções que entôo,
préteritos do agora,
por dentro ou fora,
este ano que chega,
2011 que passou...

woensdag 14 december 2011

O Casamento do Pata

                                     

É que eu sempre tive vontade de escrever esta estória mas nunca parei prá pensar no Santo. Que Santo, meu? Assunto! Assunto é a palavra que eu digitei mas este computador burro e teimoso fica me corrigindo as coisas, acrescentando aqui e ali as tolices dele, como se já não bastassem as minhas. É que o coitado pensa em holandês e vai traduzindo do jeito dele este meu vocabulário. Assunto vira Santo, casamento, lamento, e assim por diante. Mas tudo bem, eu descorrijo-o e sigo em frente. O Pata se casou acho que foi em fevereiro, num dia de sol bem quente numa cidadezinha do interior de Minas, Coronel ou Conselheiro não sei do quê. No dia anterior os amigos tinham feito a tal despedida de solteiro dele, e corriam avidamente esvaziando todos os freezers e geladeiras que encontravam pela frente. Eu me lembro de ter dançado o "Bandeira Branca Amor" com uma vassoura de piaçava no meio de algum salão. De repente apareceu dobrando a esquina uma carroça de aluguel trazendo um moço barbudinho com uma cara de castor, ou um desses roedores todavia hippies, alguém gritou "Pô olha lá, essa festa vai ser de arromba, veio até o Ratinho!". Ele assim como mais da metade dos convidados que ninguém convidou. Eu era irmão do noivo e nunca fui paparicado tanto assim por estranhos em outro casamento nesta vida. Gostei muito, até que um dos amigos do Pata entrou numas de dar em cima da minha mãe, que naquela época pensando bem devia ser uma viúva cinquentona de parar o trânsito. Não que em Coronel ou Conselheiro não sei do quê tivesse trânsito algum naquela tarde ensolarada de verão, com exceção da carrocinha do Ratinho. O cara se encostou em mim, me trazia empadinhas, churrasco, latinhas de cerveja gelada, e depois ficava parado babando do lado da coroa, "Poxa não sabia que o Pata tinha uma mãe tão distinta assim". Distinta o cacete, ele queria era à todo custo agarrar a minha velha, que Deus a tenha, ficou deveras lisonjeada com os avanços apaixonados do rapaz. Eu fiquei com ciúme. Mas depois me esqueci e fui acompanhar o Ratinho que tinha achado um máquina dando sopa e estava agora dando umas de fotógrafo. A noiva até que era bonitinha e tinha trazido uma amiga de olhos verdes muito linda que parecia a Gal Costa, mas com as pernas bem cabeludas, acho que o sovaco também, só que emanava um perfume gostoso de patchouli. O Ratinho encostou nela, eu me encostei também. Pelo cheiro alguém andou fumando maconha lá atrás no corredor. Eu fiquei na minha. Ah, como eu queria ter dançado um bolero com a Gal naquele dia de festa mas acabei com a vassoura.
A cerimônia, como tudo naquele matrimônio inusitado foi muito embolada. Primeiro a despedida de solteiro do rapaz e da moça, depois acabou virando prá festa, e no outro dia a cerimônia religiosa na igreja.
Um tal de Paulinho que era a testemunha de honra do casal entrou catando cavaco na igreja e caiu de bunda numa moita desses arbustos vermelhos repletos de espinhos, coroa de cristo acho que é o nome. O Ratinho quis tirar os espinhos com uma pinça improvisada mas o outro ficou brabo, disse que assim não dava, pois o Ratinho estava passando a mão, e acabou preferindo deixar prá depois que a Ângela iria tirar em casa quando chegassem.
Quando a noiva entrou toda bonita o tocafitas da igreja enroscou e alguém puxou o " tonto tontom, até que enfim, até que enfim, achei um trouxa que gosta de mim". Minha mãe sorriu e cantou alegremente, penso que lembrando do próprio casamento com o velho Maroca lá pelos idos de 1947, o moço apaixonado da fileira de trás também cantou-a. Eu que sou um cara encabulado cantei em voz alta, todo mundo cantou, menos o padre, um carequinha espanhol de bigode que pelo jeito já estava ficando meio cabreiro.
Prá completar as coisas o Ratinho me aparece lá atrás no altar com a tal máquina fotográfica dele na mão, tropeçou numa cadeira e derrubou todos os castiçais e as velas no chão. O Padre ficou muito puto e deu um esporro daqueles no noivo, na noiva, enfim em todos os demais presentes. Eu curti demais aquilo tudo. Parecia um filme do Felini, coisa de gibis. O Pata pediu as desculpas dele, com um sorriso meio amarelado procurou em desespero no bolso do paletó o anel. Não tinha trazido. O Ratinho tirou o dele, um desses de caveira de brucutu e passou em frente. Na porta da igreja o próximo casal esperava apressado a vez deles de entrar naquele palco. O Padre encurtou a cerimônia pela metade. Um japonês com nome de Bóia abriu o porta-malas de um chevete velho e soltou três caixas de rojões bem em frente da igreja.
A carrocinha amarela de aluguel do Ratinho apareceu numa curva e levou os noivos prá lua-de-mel deles. Eu fiquei parado à sombra de um flamboyant vermelho florido, ouvindo os fogos de artifício do Bóia, pensando em escrever esta estória e esperando pela Gal que nunca apareceu.



Joe Paz

16.12.2011

vrijdag 9 december 2011

Desencontros

Nem todos os caminhos um dia se encontram,
alguns passam perto da gente prá ir morrer em algum rio,
porém a vida é essa estrada repleta de infinitos atalhos,
vales, mares distantes, desvios de nossas almas cansadas
em mim este afã é pura saudade de um dia te encontrar...

donderdag 1 december 2011

Apelidos Antigos

A gente não devia por apelido nas pessoas. Eu sei que às vezes é legal, mas na minha opinião há que se evitar isso, e fica aqui o meu alerta. Por alguma razão desconhecida sempre tive essa aptidão natural de ver a cara do peão e apelidá-lo ali na horinha. Assim foram passando por mim milhares de conhecidos e desconhecidos os quais eu ia dando nomes peculiares muitas vezes somente dentro de minha cabeça. Alguns pegaram, outros não. Hoje mais de trinta anos depois ainda me lembro com saudades do  "Compreti". A família dele veio morar lá na vila e um dia, acho que a mãe era desquitada, eu sei que ele apareceu na roda e todo orgulhoso com o sorriso nas orelhas falou solenimente: "hoje eu compreti 9 anos". Não deu outra, foi pá bum, quase sem querer, de Carlinhos sei lá do que, passou a se chamar Compreti. Ele cresceu, virou um negão enorme, goleiro de algum time do interior paulista. Dizem que o Compreti fez sucesso, penalties era a especialidade dele, pegava todos, mas eu sei que perdi totalmente o contado com ele.
Assim como perdi o contado com centenas de amigos outrora apelidados por mim. Pena que agora eu só me lembre do primeiro nome e dos apelidos que um dia coloquei, e infelizmente sei que jamais vou encontrá-los nesta vida novamente, nem mesmo no facebook. Fico aqui pensando, será que tem internet no céu?

donderdag 17 november 2011

Razões

Acho que é por isso que nunca fui prá frente nos negócios, pois por alguma dúvida do destino tenho esse don de pagar o dobro pelas coisas que compro prá depois vendê-las pela metade do preço. Na minha família meus irmãos já desfrutam de uma aposentadoria legal e eu aqui sem ter nem um rabo prá pegar pelo gato. É que sempre gostei de trocar as coisas de lugar, de trás prá frente prá ver como fica, de frente prá trás só prá me alugar, como um macaco pulando de galho em galho, nunca ouvi direito os bons conselhos da Dona Tereza, deixei todas as certezas que tinha prá trás e sai pelo mundo à procura do incerto, pois a incerteza é a minha bússola, tal qual um ímã natural pulsando dentro de mim, atraindo e repelindo situações e sentimentos.
                                Razão

tudo na cabeça,                             nada na cabeça,
nada no coração,                           tudo no coração,
quando penso                                quando sinto
é desencontro,                               é reencontro,
pensar as coisas                             sentir as coisas
minha ilusão,                                 minha razão...

maandag 14 november 2011

Friozinho na barriga

Tanta coisa que a gente fala sem pensar, outras vive pensando à torto e à direita, sem todavia dizer nada prá ninguém, o que talvez no fundo seja até muito bom, pois tenho observado que o mundo ao meu redor está cada vez mais "congestionado" de idéias, sons, imagens, etc. Parece até que o ser humano moderno, principalmente a juventude de hoje em dia, através dos meios de comunicação tão fáceis e acessíveis como a internet, a telefonia celular e sei lá mais o que,  tem uma necessidade quase que doentia de se expressar aos cotovelos. Infelizmente tenho a impressão de que o mundo atual é apenas mais um reflexo dos pensamentos absurdos, sonhos e pesadelos de nossa raça. Onde esta megalomania louca, e isso tudo mais vai dar eu não tenho a menor idéia, mas confesso que me dá um friozinho na barriga quando paro um pouco prá pensar no assunto. Assim sendo, alguns parágrafos meus a menos ou a mais nesta lambança cultural toda não vão fazer diferença alguma. Por isso escrevo.

maandag 7 november 2011

Errei

Antigamente eu ia escrevendo e colocando nestas gavetas tão repletas de coisas esquecidas pela vida. Um dia qualquer me dava na telha, fazia arrumação e acabava jogando quase tudo fora, lindos poemas de amor, contos, estórias, etc. Tanta bobagem outrora pensada e à mão esquerda escrita já não passou rabiscada por mim. Hoje em dia este blog virou minha gaveta virtual, pois aqui vou escrevendo e deixando tudo ficar parado no ar. A internet é pará mim um buracão negro onde as coisas desaparecem num clique, prá depois aparecerem de novo num passe de mágica, todavia sempre curiosamente nesta minha tela.
Tenho assim assistido muita coisa boa que sempre quis assistir, porém muita coisa ruim das quais sempre mantivera distância. Talvez tudo tenha lá seu lado bom e infelizmente o ruim, como a própria vida da gente. Tenho procurado desta maneira buscar contato com pessoas esquecidas no tempo e na distância, e assim sendo me redimir de algumas de minhas cagadas mais graves cometidas nesta encarnação. Vou clicando os nomes pelo facebook e pelo google, pedindo minhas sinceras desculpas, muitas vezes os caras e as moças estão lá levando a vidinha deles e nem se lembram mais de mim, mas não tou nem aí, quero a consciência limpa pois "errei, quero um chance prá recomeçar, dizem que pau que nasce torto morre torto, eu não sou pau, posso me regenerar..."

dinsdag 25 oktober 2011

"Pensamentos"

Eu nunca entendi muito bem porque eu escrevo. Confesso que nunca tentei entender, simplesmete escrevo quando me dá vontade. Pensando bem é a única coisa neste meu mundo que acontece de repente naturalmente e quase sem esforço algum, os pensamentos e imagens que vão se traduzindo em palavras que parecem criar vida própria e vão seguir seu rumo seja lá qual for.
Acontece que a gente anda tão cheio de pensamentos e coisa e tal, alguns são bons de verdade, outros o mais puro reflexo do mal. Já tentou ficar absolutamente quieto num canto, acalmar a respiração, relaxar a musculatura, principalmente o maxilar, respirando com auxílio do diafragma, bem no fundo da barriga, sem contrair os ombros nem o pescoço? Os pensamentos vão passando como num filme, alguns são comédia, drama, horror, futebol, sexo, outros puro romance de amor. O grande lance talvez seja não se envolver com nenhum deles, deixar simplesmente cada um passar pela cabeça como um raio, pois logo vem outro atrás, depois o outro, e mais outro, até que depois de algum tempo eles vão se acalmando e felizmente no final das contas você também. É uma loucura. Se sou eu quem vê o próprio pensamento passar como num filme, gosto de "pensar" que  talvez não seja eu quem os pense, assim sendo não tenho culpa alguma, mas sim algum outro, dessas bobagens que acabo de escrever...

Espelhos

Segredos, que não os têm?
mistérios, medos, vazios
enredos da vida também,
difícil me ensina a calma
a menina dos olhos meus...

maandag 17 oktober 2011

Entrei no facebook

Foi num destes momentos de pura solidão oblíqua que entrei no facebook, uma vã tentativa de reencontrar os amigos perdidos no tempo e nas distâncias desta vida.
Fui clicando aqui e ali, meio aleatoriamente os nomes que me vinham à cabeça, curiosidade que mata, namoradas de outrora, paixões antigas, coisas de um passado tão longinqüo, que todavia vivem pedacinho por pedacinho dentro de mim. Gente da família, sobrinhos que nem sabia que existiam, amigos dos amigos dos sobrinhos foram também aparecendo automaticamente na minha tela. Cada qual com o seu perfil e suas respectivas fotos. Alguns vídeos de gente conhecida e desconhecida. Eu vi o Caetano, a Paulinha do Kid Abelha, meu velho amigo Cansado cantando um sambinha paulistano.  Os minutos foram se passando sem que me desse conta do tempo e do espaço. Uma coisa muito esquisita porém poderosa essa tal de internet. Entrei numas, criei coragem e acabei digitalmente pedindo minhas desculpas à Gi, que hoje mora em Sampa, por uma cagada que eu fiz há quase trinta anos. Legal, ela no outro dia mesmo me mandou um email aceitando, disse que "éramos jovens", que " o primeiro amor a gente nunca esquece". Há milhares de km fiquei contente por ter aliviado o meu coração, pois a vida vai passando e não tem backup, o negócio é de vez em quando dar uma olhadinha bem lá prá trás, todavia seguindo sempre em frente, sem ensaio nem nada, improvisando dentro da gente as coisas boas acontecidas e as que se Deus quiser ainda vão acontecer...

donderdag 6 oktober 2011

Ups and Downs

Ups and downs... É uma mera ilusão querer ficar só nos ups e viver se escondendo dos downs.
A tristeza e a alegria são meu yin en meu yang, meus absurdos e minha poesia.
Pois parece que quando estou triste me escrevo, quando estou feliz eu canto, desafinado prá cacete, mas canto. E a vida vai passando, o tempo vai correndo, tudo ficando prá trás.
O meu violão é a ponte, por onde atravesso esses rios, remos solitários as minhas mãos...

dinsdag 13 september 2011

Saudades

qualquer coisa agita por dentro,
tal qual um nó meu pensamento,
repleto de curvas,  momentos,
a vida passando como o vento...

maandag 16 mei 2011

Reflexos de uma segunda-feira

É muito esquisita esta sensação que eu sempre tive de que o ser humano está cada vez mais se afastando de suas raízes, e consequentemente de si próprio. Cada dia que passa fico mais de boca aberta com os acontecimentos deste nosso mundo e das coisas que estamos aprontando de errado por aí. E diga-se de passagem, não é brincadeira! É só ligar a televisão num jornal qualquer em qualquer lugar deste planeta e assistir esta nossa odisséia absurda. Nosso mundo é um reflexo do que se passa dentro destas nossas cabeças amalucadas. A Terra não nos pertence e nunca nos pertenceu. E é bom sempre lembrar de que estamos aqui só de passagem, somos viajantes neste tempo e neste espaço. Não sei porque mas hoje estou um pouco decepcionado comigo mesmo e com a civilização humana. Talvez seja apenas mais uma segunda-feira que vai passar em minha vida...

maandag 25 april 2011

Mais um ano que passou por mim

Ontem eu fiz meus 48, parabéns Joe! Quem nasceu no interior desse nosso Brasil lá nos idos de 1963 sabe bem do que estou falando. Minha família era naquela época bem pobre todavia mais ou menos feliz. Meu velho, que se me lembro bem só chegou a completar os 48 dele depois se foi daquela prá melhor. Bebia demais aquele homem, eu nunca tive a chance de bater um bom papo com ele sobre o porque dessas coisas. Mas eu sei que eu também bebia bastante, mas tubaína. Era louco por tubaína e pão feito em casa. Assistia meus programas favoritos numa tela preto em branco que minha irmã mais velha comprou no primeiro emprego dela. Era o túnel do tempo, perdidos no espaço, viagem ao fundo do mar. Nunca gostei de novela, mas assisti e curti até o finalzinho o meu pé de laranja lima. O pessoal dizia que eu parecia com o Tilim. Depois veio a copa de 70, o Pelé, Jairzinho. Tostão, Gerson e todo aquele povo maravilhoso da única seleção que eu aplaudi do fundo do meu coração de menino. Meu velho assistiu junto comigo, eu assisti com o meu velho. Ambos repletos de expectativas, numa mistura de orgulho e prazer, por estar ali pertinho um do outro naquele momento sublime,  naquela salinha empoeirada, ele com a cervejinha dele na mão direita eu com a minha tubaína cristalina na minha esquerda, o cheiro de pão quentinho saíndo do forno e o aparelho phillips ainda sem antena externa com um pedaço de bombril improvisado servindo de antena.

donderdag 21 april 2011

Pensando e traduzindo

Eu sempre gostei das figuras de linguagem, principalmente dessas onomatopéias da vida . Detesto hipérboles e gente que hiperboleia pelos cotovelos. Mas como falo outra língua, na qual eu penso, sonho, tenho os meus pesadelos e  tesões, até dou as minhas poucas e eventuais trepadas em holandês, não posso deixar de me pegar de vez em quando tentando comparar com as coisas da minha quase esquecida maravilhosa língua portuguesa. Eu sei que é bobagem minha e não existe comparação mas a gente vive comparando as coisas em vão por este mundo. Por exemplo, cachorro por aqui faz waf, waf, galinha tok, tok, porco knor, knor. Vaca eles chamam de koe (e se pronuncia cu). Holandês é sem dúvida alguma um idioma  muito esquisito. Só Deus sabe porque eu fui amarrar o meu burro por estas bandas. Mas pode deixar, um dia eu volto. Se não voltar vou por enquanto bem devagarinho matando estas saudades do jeito que der por aqui neste blog.

woensdag 13 april 2011

Um pensamento qualquer sobre a juventude que acaba de passar correndo por aqui

Quando eu ainda era pequeno e andava por aí  descalço correndo atrás de bola, o mundo era e não era, mas parecia só meu, o passado apenas mais uma página em branco, o futuro pertencia a Deus, e eu vivia as coisas do presente como tudo deveria ser vivido. Tempo bom! Depois o mundo foi mudando dentro e fora de mim e nunca mais parou de mudar. Diziam que tinha me preocupar com o "futuro", vencer na vida, e dessas coisas certas e erradas que a gente aprende nos bancos da escola. Aos poucos as minhas páginas foram ficando repletas de tinta, algumas azul-escuras, ou engarranchadas à lápis, outras escurecidas pelo breu da minha história e da história dos outros ao meu redor.
Acontece que o presente foi logo se misturando com o passado e o futuro acenando prá mim sem parar com suas miragens coloridas. Hoje em dia parece que meus pensamentos não param mais de navegar nas águas desse meu passado, gente que já morreu, tesões antigos, amores esquecidos, rugas do tempo que passou e continua a passar em mim.
São como velhas canções esquecidas que de súbito emergem de alguma sombra qualquer dentro deste coração esquisito e vêm me trazer alegrias ou melancolias. Talvez isso seja decorrente de algum passado coletivo que a gente um dia habitou junto, coisas da juventude, dos nossos "Clubes da Esquina". Mas ontem me lembrei do Raul e da "metamorfose ambulante" dele. Passei o dia dentro de mim cantando em silêncio e tentando em vão apagar as minhas velhas "opniões formadas sobre tudo".

dinsdag 5 april 2011

Língua enferrujada, sonhos e saudades

A dona Tereza, minha saudosa mãe, que Deus a tenha, vivia me dizendo que eu sempre tive as respostas na ponta da língua. Era verdade, a minha língua era afiada e cortava como uma navalha. A velha, coitada, queria que eu  virasse padre ou entrasse na política. Eu gosto de rezar meus pai-nossos de vez em quando prá ela, mas nunca gostei de padres, igreja, político então nem se fala. Pensando bem, devo ter decepcionado a minha querida mãe e muitas outras pessoas em milhares de coisas. O tempo passou e nunca namorei nem me casei com uma japonesa, pois era um dos sonhos preferidos dela, sei lá, queria porque queria ter netos mestiços, achava bonito e pronto. Meus filhos são mestiços porém holandeses, não é igual mas até que são bonitinhos, só que falam uma língua que infelizmente ninguém da família entende. Fazer o que? Minha mãe foi embora prá sempre, ficou apenas mais um pedaçinho vazio gravado em mim, a saudade sem fim queimando dentro do peito, esta minha língua meio enferrujada ultimamente, e a vida que passa como um raio roendo os sonhos da gente.

maandag 4 april 2011

Com pena de mim

Acontece que eu tenho andado meio triste ultimamente. É uma tristeza assim sem motivo aparente, que vem chegando de mansinho sem avisar a gente. Talvez seja apenas a saudade de todos que se foram e de tudo que passou nesta vida assim tão de repente e que nunca mais vai voltar. Devagarinho parece que estou perdendo aquela alegria toda que eu tinha comigo e que dividia com quem tivesse ao meu redor.
Alguem me disse que é a crise da meia idade. Os sonhos que eu tinha vão se perdendo nas brumas desta realidade cada vez mais sem sentido. É que sempre fui um grande sonhador, um puta dum cabeça nas nuvens. A poesia me mostrava o caminho e eu simplesmente a seguia. A música este ímã que me prendia, soltava, animava e às vezes ainda desanima.
Acho que a gente nasce assim deste jeito e não tem como querer mudar.
Ontem vi o Ivan Lins na tv daqui num desses programas bobos de conversa fiada jogada fora. Ele envelheceu tanto quanto a nossa juventude. Mas estava feliz, com os dedos envelhecidos acariando o mesmo teclado e alma cantando contente as coisas de nossas raízes, mesmo que ninguém tenha prestado atenção ou entedido nadinha daquele papo sincopado dele. A mulherada holandesa na platéia ficou olhando com cara de boba, tentando em vão batucar junto nos braços das cadeiras. A música demorou bastante prá terminar, eu confesso que perdi um pouco o fio da meada, mas falava de uma mulher que era dele ou tinha sido. Fechei os olhos e fiquei pensando na Lucinha Lins de biquini. Minha esposa me acordou lá da cozinha que era prá lavar a alface e cortar a cebola. Abri os olhos repleto de saudade e melancolia, porém dentro de mim cantei o refrãozinho do Ivã:  "this women is mine, but this women is mine". Não sei porque, mas fiquei um pouco com pena do Ivan, das mulheres sem ritmo da platéia, da minha fritando a carne moída dela, enfim, um pouco com pena de mim mesmo...

vrijdag 1 april 2011

Lembrando da Euta

Outro dia eu li um texto de um rapaz falando sobre as diferenças entre o chato, o chato de galocha, o pentelho, o mala, até o xarope, do qual eu não ouvia mais falar dele já fazia tempo entrou na conversa. Na hora eu não tive a chance de comentar, e agora infelizmente não me lembro mais do título ou quem o escreveu. Mas o texto era bom.
Fiquei aqui meio escondido, mas com "saudades" pensando nos grandes chatos desta minha vida. Quem será que foi o campeão? Na hora me veio à cabeça o grande Fioca e uma japonezinha feia de morrer que alguém apelidou de Euta (a Eutanasia). Se aqueles dois tivessem dado as mãos, teriam conquistado o mundo inteiro. Suas chatices eram sem tamanho, sem limites, extrapolavam qualquer chatômetro ainda não inventado.
O Fioca queria porque queria namorar ou comer a minha irmã, coitada. Ele aparecia lá em casa todo santo domingo com flores, bombons sonhos de valsa, e ai meu Deus como era difícil se livrar dele. Um dia falou prá mim que estava economizando papel higiênico prá quando fosse se casar. Ele era meio louco, e muito mas muitíssimo chato. A gente vivia se escondendo dele, mas o bicho sempre nos encontrava, nos locais e situações mais impossíveis e inesperadas. Escrevia poesia, mas era ruim demais, publicava os livrinhos dele e depois rumava pro calçadão da minha cidade, prá vender os versos dele pros coitados dos transeuntes apressados, conhecidos e desconhecidos. Eu falava milhões de vezes prá ele que o meu nome era Miguel mas ele teimava em me chamar de Manoel.
Deu trabalho, e não sei como a minha irmã se livrou daquela praga, mas a coitada acabou se casando com um outro quase tão chato, aliás prá falar a verdade, um banana, que resolveu trocá-la por uma mocinha mais nova, deixando os três filhos adolescentes prá trás. Não sei se foi coicidência, mas ela ficou tão triste, mas tão triste que acabou pegando uma doença, deu-lhe um tumor na cabeça e morreu aos cinquenta anos. Eu tenho saudades da minha irmã.
Agora do grande Fioca e da Euta ! Ela foi a primeiríssima, a grande campeã. Vai ser chata assim lá na casa do chapéu. O japonesa chata. Não me lembro mais o nome dela, mas era mala, chata, carrapata.
Um dia fui visitar a minha outra irmã rica em São Paulo e resolvi dar uma chegada lá naquele centro cultural que ficava ali no finalzinho da Paulista. Alguém me disse que lá tinha todas as partituras dos choros do Pixinguinha e dava prá copiar tudo na hora. Eu gosto muito de chorinho, e até hoje ainda tento em vão tocar o velho Pixinga.
Estou lá na minha, no anonimato de minhas cópias quando de repente ouço um "Hello!!?!" meio suspeito. Estava na capital, milhões de almas rodando sozinhas por ali naquela hora. Nem dei bola. Até o momento em que senti um cutucãozinho no meu ombro direito, dei uma virada assustado, e lá estava ela, em carne e osso, a Euta, toda feliz da vida por me "encontrar" no meio daquela multidão.
Estava uma vez falando de chatos, jogando conversa fora e contando isso prá uma amiga, a qual na verdade eu queria era dar uns malhos, quando a moça de repente me fez parar no meio do papo e falou: "Pelo amor de Deus, é a Euta, essa japonesa não, ela é muito chata!!".
E depois seguiu em frente com a versão dela: "Pois é, eu tinha saído prá visitar uma amiga, que morava numa chácara ali no final da Avenida Higienópolis, e tinha um pé de jaca carregado, não é que o velho pai dela me cisma de dar uma jacona prá eu levar prá casa. Tentei me esquivar, fiz de tudo, mas ele forçou tanto a barra que tive que levar aquele fruto enorme embrulhado num jornal.
Estava fazendo um sol infernal e pensei em jogar o raio da jaca no lixo, ou em algum terreno baldio, mas depois fiquei com remorso, o velho tinha feito tanta questão. Era domingo, e prá cortar caminho resolvi subir a Higienópolis, que naquela época era a rua dos "boyzinhos", das cocotinhas, dos bares lotados e das motocicletas. De óculos escuros atravessei a calçada e fui andando o mais rápido que podia, quando de súbito alguém me pegou pelo braço. "Hello, o que cê tá levando escondido embrulhadinho aí?" Era a Euta, tentei disfarçar prá não passar vexame. Ela não se deu por vencida e gritou bem alto prá todo mundo ouvir: "Quer apostar, é uma jaca, olha é uma jaca, gente! Ela tá levando uma jaca embrulhada aí nesse jornal!!"

maandag 28 maart 2011

A minha rua

Deserta e fria,
na minha rua
inverno e gelo
se me silencia,
no silêncio da
lua meus olhos
procuram o sol
na neblina nua
que se mistura
a meus desertos
silêncios, versos
invernos em mim...

Ensacando o sax

Ensacando o Sax 
Às vezes até que me esqueço todavia, outras me lembro com bastante saudades, todas as coisas que já fui ou já fiz nesta vida comprida, cheia de curvas, rodoviárias, alegrias e tristezas sem fim.
Já fui bancário do antigo Banespa, agrônomo, bom de bola, cabeludo, roqueiro, motoqueiro, puteiro, não, mentira rima boba minha, até que já tive vontade de ir, mas nunca fui a uma zona de verdade, o Naka, amigo meu, pelo contrário, vivia indo, falava que era legal, conhecia por nome, todas as putas da região, um dia até arrumou prá gente fazer uma apresentação com a nossa banda lá. Eu tava quase indo, mas o baterista, que era da igreja presbiteriana independente se recusou, e com razão, onde já se viu, a moçinha cantora, namorada dele também, e sei que acabamos não indo. Talvez tenha sido melhor assim. Saudades do Naka, eu tinha centenas de amigos, dos quais hoje em dia, nunca mais tive notícias. De vez em quando me pego pensando neles.
A gente gostava muito de dar umas de músico também, porém a única vez que tocamos em público, foi um grande fiasco. Uma vergonha daquelas. Não vou dar os nomes de verdade das feras, pois hoje em dia, acredito que talvez sejam homens "respeitados" aí no Brasil, escritores, jornalistas, sei lá mais o quê, pode pegar mal.
O "Rei" apareceu, todo empolgado lá no banco, e disse que tinha arrumado um restaurante legal, prá gente estreiar com a banda, era um desses "happy hour", e já tinha combinado com a dona, o cachê e tudo mais, era na sexta-feira, das seis às oito da noite. Queria mandar até imprimir um poster com a foto da banda.
Eu bem que tentei convencê-lo do contrário, pois a gente só tinha ensaiado o "Summertime", em dó menor, era o único que eu sabia tocar no saxofone, e ainda por cima, desafinava um pouco, prá falar a verdade desafinava e bastante. "Não, mas tá legal, você improvisa em cima, Migué (naquela época tinha gente que me chamava de Migué) fica bom", mas como, vou ter que improvisar duas horas em cima do summertime? Não, Rei, não vai dar liga. Mas ele estava resoluto, já tinha arrumado até um nome pro grupo, "Sacando o Sax" (lembra dessa, Rei?, nome que até gostei.
Na sexta-feira passei na casa dele e do Maurão, baterista, ou melhor atabaquista.
Apareceu também, alguém com um baseado, acho que foi o Cansado, ou a Creuzinha uma secretária gostosa que tinha lá no banco, e eu fui, todo mundo foi, pois naquela época de estudante, todo mundo ia. Quem não foi perdeu essa boca. O Rei, quando fumava, se encanava com o espelho, passava horas trocando de roupa, combinando e descombinando tudo de novo. Ainda por cima, a gente tinha que participar, dar palpite, " e essa camisa ficou legal?". Ficou legal, sim, foda-se Rei, vamo logo que tá quase na hora do show, pô!
O coitado do Maurão, não achava a tal vossourinha do atabaque dele, tinha perdido, e andava prá lá e prá cá meio desorientado. E dá-lhe de procurar aqui, ali, debaixo da cama, dentro do armário, na cozinha, nada.
Eu já de saco meio cheio, tentei resolver o problema, "pega a vassourona do banheiro mesmo, essa de limpar a privada, ninguém vai nem notar, bicho!" Contrariado, mas muito doidão, ele lavou aquela porcaria debaixo do chuveiro, e lá fomos nós, babando verde, pro restaurante "A lareira" da coitada da mulher.
Chegamos lá, tinha uma ceguinha cantando, até bonitinha toda de branco com um vestido meio transparente, voz muito bonita, afinadinha, mas era música sertaneja, acho que em playback.
A dona pediu prá moça parar no meio da música, pegou o microfone e anunciou , agora com vocês o famoso grupo "Sacando o Sax!" Todo mundo aplaudiu. Subimos pro palco.
O Rei tentou afinar o violão "janninetion" dele, e já quebrou a corda mizinho, logo na primeira virada da tarracha.
"Pô, Migué, e agora, não tem outra?" "Vai assim mesmo, ué, com cinco cordas, tá bão, dá prá tocar, Manda ver. Rei!"
O Maurão contou, no atabaque, um, dois, três, e a gente começou o Summertime.
Ele curtindo, de olhos fechados, balançava o cabeção ao ritmo da vassourona, que ao invés de fazer, o ttchch, ttchch, ttchcch, como deveria fazer uma percussão jazzística normal, acentuando o segundo e quarto tempo, fazia um pplofff, pplofff, ppofff , descompassado e meio surdo, eu não aguentei aquilo, e comecei a rir, e você já viu, rir tocando um instrumento de sopro vira merda, desafina tudo, os sons mais horríveis que já ouvi na vida, sairam daquela boquilha naquela sexta-feira. O Rei também não aguentou, olhou prá mim e caiu na gargalhada também.
A dona do restaurante, muito diplomática, pediu, gentilmente, prá gente cair fora, disse que o nosso som era muito "prá frente", muito avant garde.
Enquanto eu viver, jamais vou me esquecer disso, chegamos, todos cheios de moral, "sacando o sax", e fomos embora rapidinho, morrendo de vergonha, "ensacando o sax".