zondag 20 oktober 2013

Curteme de boi

Na epoca em que nasci o meu pai trabalhava no antigo curtume ali do lado do frigorifico Bourdon. Eu nunca soube muito bem o que o velho fazia mas me dava arrepios so de pensar que eles matavam os coitados dos bois e enlatavam as sobras naquelas salsichas que eu tanto gostava de comer na minha infancia. Eu ia de gaiolas e alcapoes debaixo do braco tentar cacar as coitadas das coleirinhas ali nas barrancas escorregadias daquele buracao fedido que penso que nem existe mais, apenas em minha memoria. As coleirinhas, os azuloes e os bicudos eram espertos demais e nao se deixavam cair em nossas emboscadas, todavia tinha uns pretinhos que a molecada chamava de tiziu que eram mais boboes e viviam dando alegremente uns pulinhos acrobaticos de pota cabeca penduradinhos nas flores das gramineas assim meio secas cheias de sementes saborosas, mas terminavam tristemente nas garras de um alcapao qualquer disfarcado nas folhagens. Eu menino ficava observando as coisas ao redor, as nuvens, o vento, a correnteza daquele riacho vermelho carregada do sangue e restos dos bois do curtume do meu pai. Um dia eu vi uma bexiga ainda sangrando parada numa curva onde instalara a minha gaiola com minha coleirinha predileta que era mansinha que nem ela so, e ficava chamando as outras mais selvagens,que pousavam desconfiadas bem em cima da gaiola prateada. Nao me contive e com um pedaco de pau cutuquei com forca aquele orgao vital que explodiu deixando um cheiro mais horrivel ainda pairando no ar. Depois subi o barranco escorregadio pois avistara uma bananeira em cacho. Como era linda aquela flor, com as bananas macas geometricamente lado a lado enfileiradas em circulo e na ponta as petalas e sepalas arrocheadas e perfumadas. Os marimbondos infelizmente tambem tinham notado a presenca elegante da bananeira carregada e pareciam helicopteros amarronzados voando em formacao de esquadrilha. Naquele dia lembro que levei umas boas ferroadas, mas como a fome era maior que o medo enfrentei-os sem sequer pensar no perigo. Alias ja conhecia a dor das picadas pois meses antes ao buscar uma bola que caira debaixo da casa do toninho filho da dona tereza vizinha do lado, eu havia por distracao e pressa de moleque dado uma cotovelada na escuridao e derrubado a casa dos coitados. Minha mae contou as ferroadas, foram doze nas costas e aquilo doeu tanto que so de lembrar ainda me doi. Alguem gritou coloca barro que passa, acho que foi o Ampelio, um rapaizao adolescente que morava na rua de cima quem deu a dica, mija em cima, acho eu que de sacanagem, porem no meio daquela dor latejante pouco me importava eu se mijassem ou ate mesmo cagassem nas minhas costas. Felizmente o barro foi ficando quente e secando, e da-lhe mais barro, que por sua vez secava quase que instanteamente e esturricava ao contato de minhas maos de menino. Nunca me esqueci dessa passagemem minha vida, assim como nunca me esqueci dos amigos da infancia, dos vizinhos, ate dos galos indios e das galinhas que ciscavam despercebidamente naqueles quitais maravilhosos, tudo parece que foi ontem, nas corredeiras do tempo e das aguas vermelhas do curtume do meu pai. N.A. Me desculpem os erros ortograficos e gramaticais, sao um pouco por minha parte outra pelo ipad no qual nao acho as cedilhas e os circunflexos, vai sem mesmo, sem correcao nem acento assim como as vezes nesta vida meio descedilhada e sem crases.