woensdag 30 mei 2012

Se embananando

Morar na Holanda até que é legal, tirando um pouco o frio que faz de vez em quando e este bendito idioma holandês, que depois de quase vinte anos ainda continua diariamente me puxando os tapetes. Dou meus pulos bem altos e levo meus tombos semânticos horríveis.
Ontem fui explicar prá um conhecido que infelizmente não poderia participar dos próximos torneios pois tinha arrancado os três "dedos" do pé (queria dizer unhas!) que tinham ficado roxos! O cara assustou do outro lado da linha. Pairou um silêncio no ar. Minha esposa gritou ansiosa lá do sofá, "nagels!, nagels!", ou seja "unhas, unhas", mas era tarde e no afã de me comunicar eu já tinha falado, ou melhor quase gritado, eles dizem que eu grito no telefone, devo estar ficando meio surdo; "tenen", que quer dizer "dedos", mas tudo acontece tão rápido que ainda me embanano um pouco com os sons e o significado de algumas palavras. Mas graças ao bom Deus nasci brasileiro e se embananar é com a gente, não é mesmo?

Falta do que fazer

Quem me conhece sabe que sou um cara bem pacato, nunca gostei muito de farras, de agitos pela madrugada adentro, festas, aniversários meus e dos outros, enfim,  acho que no fundo sempre fui um sujeito assim meio acanhado, gosto de ficar "na minha", como a gente dizia então, o pessoal logo cedo me apelidou , e com muita razão, de " o velho. Porque parece que eu era lá cheio de manias, ranzinza, muquirana, prá falar a verdade até um tanto chato, nunca gostei de dividir o meu jornalzinho de domingo com ninguém, lá em casa eles desrespeitavam, trocavam a ordem das páginas, amassavam, o Marcião tinha a mania de levar prá ler no banheiro. Até hoje gosto de ler as notícias sossegado e em branco e preto, prá mim nada mais gostoso que as páginas recém impressas de qualquer jornal de domingo. Também  gosto de assitir meu futebol sozinho, com o sofazão e o controle remoto só prá mim. Sei que isso não crime algum e que nem todos os idosos deste mundo também sejam assim, porém conheço alguns parecidos.
Neste fim de semana nem tive tempo de dar as minhas folheadas taciturnas, pois resolvi entrar num torneio de tênis aqui do vilarejo onde moro, no nordeste da Holanda. Foram cinco dias maravilhosos de sol e temperatura de quase trintas graus e muito esporte. Não que eu seja um desportista de primeira, nem de segunda, terceira, mas participar de algum evento esportivo de vez em quando é algo que me dá imenso prazer. Eu me escrevi em duas categorias, H7, 35+ e HD7, 35+, ou seja classe 7 acima de trinta e cinco, e duplas com o avô de uma amiga do meu filho. O resultado não vem ao caso, mas cheguei nas semi-finais, onde infelizmente fui merecidamente derrotado, todavia fomos campeões das duplas. Fiquei lá de butuca até as as dez da noite esperando a última partida terminar prá receber o meu troféu ou medalha, mas me vieram com um checão de 30 euros! em forma de vale prá comprar numa loja de esportes aqui do bairro. Meus filhos também disputaram o tal torneio mas não chegaram nas finais. Ficaram além de orgulhosos do pai, de olho foi no meu cheque, coitados de longe quando viram os números erram nos zeros e pensaram que era 300, ou 3000. Não sou nenhum Nadal, mas bem que desta vez eu merecia. No ardor das disputas escorreguei no saibro seco da quadra e abri o pulso esquerdo. Sou canhoto, enfaixei e fui à luta. A esperança é a única que morre. Depois quebrei as unhas da mão direita. Passei meses cuidando das ditas pois nesta sexta-feira vou tocar violão num restaurante chique aqui pertinho. Como se não bastasse isso os sapatos Nike novinhos que me custaram uma fortuna me apertaram na ponta e fiquei com as unhas do dedão de ambos pés arroxeadas que nem nectarinas vermelhas cheias de sangue qualhado por debaixo e uma dor dos diabos.
Hoje estou de molho, havainas no pé, joelhos doloridos, o pulso enfaixado. De onde será que vem esta mania de querer competir esportivamente com os nossos semelhantes? Penso que esporte apareceu neste mundo por simples falta do que ter o que fazer, pois somos na maioria homosapiens internéticos, quase ninguém neste mundo moderno precisa mais sair prá caçar, nem correr, nem colher, nem plantar, eu queria ver o se Federer ou o Nadal com uma enxada na mão depois de capinarem o dia inteirinho debaixo de sol quente queimando os lombos fossem ter vontade de jogar pelo menos um só game em Roland Garros.







zondag 20 mei 2012

Arcaísmos

Quando o tio Arlindão contava as estórias cabeludas dele a gente ficava tirando sarro em cima, pois ele só falava de gente morta, conhecidos e desconhecidos de séculos atrás até então prá mim. Trocava meu norme pelo do meu pai,  dos meus irmãos, um dia eu era fulano, no outro oi beltrano, entra vem tomar um cafezinho. Cafezinho pro beltrano, Jacyra! O velho maestro aposentado ficava lá rindo gostoso de suas próprias piadas, um pouco perdido no seu próprio tempo e espaço. Eu era jovem, minha mãe dizia, tinha todo um futuro à minha frente. Porém, dia após dia parece que o futuro foi passando do meu lado e eu nem vi. Nessa viagem insólita os amigos foram ficando prá trás lá no Norte do meu Paraná, amores antigos, lugares vividos, paisagens, perigos, nebulosidade em forma de lembranças vagando dentro de mim.
E eu que era sãopaulino roxo, virei a casaca, troquei de time, aliás troquei de país, de hábitos até de idioma.
"Mea culpa", se hoje em dia juntar o vocabulário em português dos meus três filhos holandeses as frases ficam mais ou menos assim: "eu gostar de sorveto", "vammos pegar um praio". Legal é quando minha esposa querendo fazer moral em cima ainda corrige os coitados, "é eu gostar da sorveto", "vamos pegar uma praio!"
Estou me sentindo tão arcaico quanto o Arlidão, embora minhas estórias sejam menos cabeludas que as dele. Acho que isso é um mal de família, pois volta e meia me pego rindo de minhas próprias piadas que infelizmente ninguém aqui entende. Até aí tudo bem, só me assustei de verdade outro dia quando chamei o Albert  meu vizinho duas vezes de Jacob, gordão, com a camisa nr. 14 do Ajax, ele me olhou meio perplexo, saquei a gafe, dei uma de Migué, engatei uma segunda e na terceira vez me corrigi rapidinho, "fala grande Herbert!"

vrijdag 11 mei 2012

Menina linda come a flor

A primeira música que eu me lembro bem de ter ouvido e cantado junto nesta vida acho que era do Renato e seus Bluecaps. E eu passava o dia inteiro pelo quintal cantando e cantando, todavia errado "menina linda come a flor", todo mundo tirava um sarro em cima e não entendia porque. Passei os primeiros anos de minha infância assim inocente sonhando acordado e imaginando uma linda menina moreninha de cabelos cacheados correndo pelo quintal e comendo flores vermelhas, brancas, azuis, amarelas. Não me lembro quantos anos tinha, mas a minha irmã mais velha ainda me dava banho dentro de uma velha bacia de alumíno que minha mãe usava prá "quarar" as zorbas brancas do meu pai. O velho Maroca era foda, na minha memória os sapatos pretos dele brilhavam mais do que os de qualquer outro pai neste mundo. Ele trabalhava como tesoureiro numa prefeitura do interior de São Paulo e acho que às vezes na pressa da manhã lustrava os sapatos com as ditas cuecas. Minha mãe queria morrer!
Lembro dele de manhã com a cara cheia de espuma e uma toalha enrolada no pescoço fazendo a barba já grisalha.  Um dia me ajudou a serrar e pregar uma caixinha de sapatos com os restos de peroba que havia no quintal. Juntei as latinhas de graxa marrom e preta, uma escova de dente, outra da cozinha,  um pedaço de espuma, alguns  retalhos de flanela que tinham sido algum dia pijama de algum irmão mais velho, e lá fui eu tentar faturar os meus trocos. Meu pai foi o meu primeiro cliente. Eu caprichava em cada milímetro daquele couro escurecido, fazia vir à tona toda beleza daqueles sapatos já tão castigados pelas infinitas caminhadas do meu pai entre casa e trabalho. Ficava um espelho e o velho sorria orgulhoso do filho e também dos pisantes dele. Sempre me pagava mais do que o necessário e eu ficava contente. Dona Tereza também, pois as velhas zorbas manchadas de preto sumiam da cesta de roupas do banheiro.
Sim, já fui engraxate e com muito orgulho! Engraxei pros vizinhos, amigos de bar do meu pai que apareciam lá em casa. Infelizmente a concorrência era muito grande e tirando os amigos e parentes,
quando aparecia alguém diferente lá na pracinha a molecada se ajuntava em volta que nem gavião, e até brigava prá ver quem ficava com o freguês.
Pensando bem já fui bem pobre, um monte de irmãos, papai bebendo tudo em cachaça pelos bares da vida, mas graças à Deus tal pobreza passou. Meus irmãos se lembram dele bravo, cambaleante,  quebrando pratos e xingando quem tivesse pela frente. Eu cá comigo gosto de lembrar daquele velho maluco como meu primeiro cliente e acima de tudo um amigo do peito. Saudades dele...


woensdag 9 mei 2012

O Seu Zarpa

Quase quarenta anos já se passaram e de algumas coisas até hoje me lembro e me arrependo, de outras não, mas é que eu devo ter enchido demais o saco do coitado do seu Zarpa.
Isso acho que foi uma herança de irmão mais velho prá irmão mais novo, pois o Mirtão já aprontava as dele pro lado do velho. Seu Zarpa era aposentado e morava num casarão todo azul-piscina com um muro enorme bem alto também pintado de azul-piscina, as mesas, cadeiras no quintal, até o galinheiro com as sobras de tinta, na penumbra de minha lembrança de menino o mundo era azul-piscina assim como aquela casa de esquina que nem deve existir mais, apenas quase se apagando dentro de mim. Ele não gostava de moleques e perambulava o dia inteiro prá lá e prá de pijamas pelo quintal, cuidando das galinhas dele, varrendo calçada, acho que na verdade fugindo um pouco das ordens de dona Nega sua esposa, mulher taciturna que vendia roupas usadas na feira de domingo.
Eu não sei quando isso tudo começou mas sei que também entrei na dança e prá confessar era o Joe que puxava a fila, pois era só chuviscar um pouco e aquela rua sem asfalto ficava toda embarreada, a molecada se juntava em frente de casa, uns descalços, outros de "conga", "ki-chute" preto, uma bola "pelé" de plástico bem fino marrom, com as fotos do nosso ídolo da copa de70 gravadas. Não tinha time, era "todo mundo por si, Deus prá todos", agora o gol era sempre a parte mais limpa do murão azul do seu Zarpa. Prá mim aquilo era uma "masterpiece", com as boladas que ficavam manchadas como enorme jabuticabas de veludo na quela tela monumental. Ele ficava puto, aparecia no portão com uma faquinha dessas de pão prá furar as bolas que caiam do lado dele, dava carreirão na gente, mas sempre voltávamos com reforço em número maior ainda. Fazíamos "vaquinha", dez centavos por cabeça e alguém corria como um raio rumo à  mercearia do seu Brás da rua debaixo prá comprar novas bolas pelé, que diga-se de passagem, foram as piores bolas que já chutei na vida, pois eram leves demais como uma pena, e o vento as levava prá onde quisesse, infelizmente sempre do lado de lá do muro. Pensando bem, foram as melhores bolas que já chutei na vida, os gols mais bonitos ficaram marcados em algum muro também dentro de mim.
Era só passar algum pedidor de esmola, vendedor de Carnês do Bau, Mórmons, que a gente mandava direto pró casarão de esquina, que ali morava um senhor muito filantrópico, o seu Zarpa. No verão o dia inteiro era gente tocando campainha e batendo palma lá em frente.
O Mirtão meu irmão teve a pachorra de em época de eleição fazer umas cédulas à mão mesmo, com o nome, número e "partido político" do velho, e quando não tinha nada que fazer ficava lá no posto de gasolina da avenida dando umas de cabo eleitoral. Acreditem ou não, ou seu Zarpa teve muitos votos e quase foi eleito vereador!
O futebol sempre foi o divertimento número um, mas a moda sempre mudava, era carrinho de rolimã, pipas, peão, bolas de gude. O meu carrinho era porreta e levei um tempão prá fazer, no serrote e martelo emprestado do seu Nenê nosso vizinho. Fiz até um "cockpit" e nos meus sonhos de fórmula 1 era o Emerson Fittipaldi com a Lótus preta dele. Agora a pista, não poderia deixar de ser, a calçada novinha em folha do seu Zarpa, que como era inclinada e ficava na esquina tinha uma curva de quase noventa graus que demandava enorme concentração e perícia. As rolimãs deixavam uma infinidade de rastros de cobra bem fininhos meio brancos e fundos, parecendo um desses quadros modernos de Miró.
Um dia alguém soltou uma bombinha de cinquenta na calha da varanda dele. eu estava na escola, mas dizem que foi uma explosão e tanta. Não sei quem foi, mas protestei abertamente em nosso grupo, isso não se faz. Brincadeira tem hora.
Depois meu irmão faleceu afogado numa represa, um ou dois anos depois meu pai também se foi por doença, minha mãe pegou as malas dela e com razão se mudou com agente prá mais perto da família dela. Senti falta da minha vila, da minha rua, dos meus amigos, até do seu Zarpa.
Mais de vinte anos depois, um dia visitando uma tia que morava ali pertinho, depois de hesitar bastante resolvi passar pela minha antiga rua. A nossa casa tinha virado uma república de odontólogos, e estava toda largada, as janelas com a madeira apodrecendo, mato no quintal, as árvores; jabuticabeiras, pé de tamarindo, romã, pitanga que tanto amava foram cortadas por alguem que não gostava  nada de verde. Este vai morrer no inferno. Fiquei meio triste, e quando já estava em lágrimas quase deixando aquele meu passado prá trás lancei meu último olhar no velho casarão azul da esquina. Aquela fortaleza azul-piscina ainda estava lá, majestosa, igualzinha, com seus muros bem altos, como se me esperando ou algum outro moleque de interior como eu. Ao longe parei o carro prá ouvir o cocorecar de alguma galinha no fundo do quintal. Quando dobrei na contra-mão a esquina ainda deu prá ler "Seu Zarpa bicha" escrito bem grande e caprichado em letras de forma no murão azul-piscina.

dinsdag 8 mei 2012

Cacofônico

Uma página em branco à minha frente é um alívio pros meus males,  talvez pela perspectiva de uma nova idéia, um novo começo ou remédio prá mais um triste fim.
Ter a liberdade de escrever as minhas próprias bobagens é uma satisfação incrível que gosto de exercitar quando posso, mesmo que as minhas palavras venham agora se perder nas malhas desta rede internética já tão repleta de tantas palavras de outros.
Infelizmente tenho a impressão de que a gente e o nosso lixo não está apenas poluindo e destruindo todos os cantos deste planeta, mas também não posso deixar de pensar em todo este lixo digital contemporâneo que me assombra todas as vezes que entro online. Meu Deus do céu, onde vai parar este mundo! Tenho a impressão de que estamos todos falando, ou melhor gritando ao mesmo tempo, nesta nossa cacofonia virtual,  todavia ninguém se ouvindo.

vrijdag 4 mei 2012

Cantor Embaraçado

Eu sempre gostei de cantar. Desde pequeno perambulando pelos quintáis da minha infância tentava em vão imitar o Moacyr Franco ou as coisas do Roberto. Naquela época o radinho de pilha que a Cidoca, a empregada lá de casa deixava o dia inteiro ligado não parava de tocar o "Detalhes", logo depois "Cavalgada".

Sei lá porque quando lembrava do "Luzes da Ribalta" eu chorava, se não prestar atenção choro até hoje, quase quarenta anos depois.

Um dia o Mirtão apareceu lá em casa com um violão "trovador". Acho que foi meio por instinto, ou talvez por pura falta de ter o que fazer, que comecei a dedilhar as minhas primeiras coisas em cima dele. Dali prá frente nunca mais parei. Quando fico triste ou com saudades prá valer pego a viola e canto desafinado o "Gente Humilde".

Infelizmente nasci com as cordas vocais meio embaraçadas e por mais que queira ou tente, não consigo deixar nem uma única nota afinada pairando no ar, ficam todas assim como se batendo na trave, isso quando batem, pois a maioria é bola pro mato mesmo.

Assim sendo sempre sonhei em acompanhar uma cantora. Tinha na cabeça alguém com uma voz suave, meio sexy, cantando as bossa novas, onde eu iria com meu violão harmonizando tudo com acordes bem dissonantes, todavia lindos.

Nunca aconteceu, até andei colocando anúncios neste jornaizinhos musicais, pela internet, nada. Uns tempos atrás me apareceu uma cantora holandesa interessada. Marcamos um ensaio, quando ela chegou aqui na porta de casa era uma velha de uns 65 anos, parecia a tia Nice, e ela cantou o "Madalena" meio em ritmo de rumba mais ou menos assim: "a Matalena, o meu pecho percepeu" com uma voz rouca de fumante ou ex-fumante. Gravamos o "Matalena" dela mas ficou só nisso.

O tempo passou, eu já tava quase desistindo das minhas bossas, não é que me aparece o John, vou traduzir o nome dele, Jão Babuíno, cantor ex-roqueiro holandês que agora descobriu e cismou em cantar bossa novas comigo. Quarentão que nem eu, narigudo, parece a fotocópia do Juca Chavez, mas duas ou três vezes o tamanho dele, cabelão loiro quase até a cintura, sapatão nr. 45, um violão todo fodido, colado às pressas com durepox, emendado com parafusos. Como a vida muitas vezes não passa de uma selva, a minha um circo e o Babuíno canta legal, todas quarta-feiras a gente se diverte, fomos até convidados prá em junho tocar num restaurante daqui do vilarejo.

dinsdag 1 mei 2012

Lembrando das coisas

E você foi lembrar do "pinto com fimose", poxa quanto tempo, ele cantava por aí nos barzinhos da noite. Mais um apelido que coloquei em alguém e mais um nome que infelizmente já não me lembro mais.
Mas lembrei do "gato de borracha" da sua irmã, do trompete do seu pai que a sua mãe acho que escondia dentro do armário pro coitado do velho não tocar! Bons tempos.
O tempo passa, o tempo fica. Presidente Prudente ficou também dentro de mim. Nasci ali na rua Rui Barbosa em 1963, naquela época uma ruazinha pacata e feia sem alfalto que ficava entre a 7 de setembro, (ou era 12 de outrubro?) e a Mário Simões de Souza. Um calor infernal e um poeirão de areia danado, volta e meia passava um carroceiro de aluguel e os cavalos que não sei porque cargas d'água, cismavam de cagar bem na frente de casa. A gente tinha um cachorro preto meio mocorongo que se chamava "Suingue", e moleque "quase" alfabetizado eu escrevia o nome dele assim, com u e um e , e parece que o tonto ficava lá na dele esperando,  era só os cavalos passarem que ele acordava de seus sonhos caninos prá sair debaixo das sombras varandais da minha infância,  correndo como um fantasma louco prá se rolar todo na merda. Sei lá que fim levou aquele cão maluco, deve ter morrido de velhice, ou foi atropelado pela modernidade irrefutável de algum carro despercebido que passou rápido demais como o tempo, numa dessas sessões inusitadas dele e minha, ambos atravessados no meio de nossas ruas.