woensdag 11 december 2013

Estatisticas e traducoes

Vendo as estatisticas do meu solitario blog foi com surpresa que descobri que sou muito lido, principalmente na Russia, America, China (!!) e as vezes no Brasil tambem. Primeiramente fiquei contente, ate um pouco orgulhoso de mim mesmo, todavia curiosissimo, quem estaria la do outro lado deste mundo se dando ao trabalho de me traduzir e ler? No Brasil eu entendo pois se alguem procurar alguma palavra no google vai acabar por simples obra do acaso chegando a alguma pagina minha, mas devo confessar que fiquei com a pulga atras da orelha, como dizia a dona Tereza minha mae, pois quem estaria me lendo e porque? Minha teoria e que os russos e o FBI estao por detras disso, sem falar nos chineses que controlam a internet e tudo mais que rola digitalmente por este globo. Hoje depois de um tempao abri o blog do Joe e estava la, ontem mais de 15 vezes lido por um site russo qualquer. Na tentativa de desvendar mais um misterio cliquei em cima, como num passe de magica apareceu vindo do nada, das profundezas absurdas da tela do meu ipad uma loura com os peitoes repletos de silicone quase que pulando pra fora do sutia apertadissimo, assustei pois e virus, e imediatamente a deletei, porem confesso que numa fracao de segundo meus olhos ainda conseguiram decifrar uma tatuagem do lado esquerdo do ombro da moca, era uma imagem de um homem, mas parecia demais com o Gorbachov. Quem seria aquela mulher sexy com o Gorbachov dela, o que queria comigo, sera que traduzia de madrugada vestida apenas com o seu sutia os meus textos? Eu nao sou bobo nem nada, e bem sei que na verdade ela nao passa de mais um spam, mas nao custa nada sonhar e pensar nesta segunda-feira de manhanzinha que aquela menina linda curte as minhas rimas e bobagens mais como esta aqui po. P.s. Mais um texto escrito as pressas sem pe nem cabeca, nem cedilhas nem acentos graves, os quais ainda nao aprendi a digitar neste aparelho esquisito. Saudades da minha velha maquina de escrever, do lapis de uma boa borracha e do papel de pao, como o tempo passa meu Deus...

zondag 20 oktober 2013

Curteme de boi

Na epoca em que nasci o meu pai trabalhava no antigo curtume ali do lado do frigorifico Bourdon. Eu nunca soube muito bem o que o velho fazia mas me dava arrepios so de pensar que eles matavam os coitados dos bois e enlatavam as sobras naquelas salsichas que eu tanto gostava de comer na minha infancia. Eu ia de gaiolas e alcapoes debaixo do braco tentar cacar as coitadas das coleirinhas ali nas barrancas escorregadias daquele buracao fedido que penso que nem existe mais, apenas em minha memoria. As coleirinhas, os azuloes e os bicudos eram espertos demais e nao se deixavam cair em nossas emboscadas, todavia tinha uns pretinhos que a molecada chamava de tiziu que eram mais boboes e viviam dando alegremente uns pulinhos acrobaticos de pota cabeca penduradinhos nas flores das gramineas assim meio secas cheias de sementes saborosas, mas terminavam tristemente nas garras de um alcapao qualquer disfarcado nas folhagens. Eu menino ficava observando as coisas ao redor, as nuvens, o vento, a correnteza daquele riacho vermelho carregada do sangue e restos dos bois do curtume do meu pai. Um dia eu vi uma bexiga ainda sangrando parada numa curva onde instalara a minha gaiola com minha coleirinha predileta que era mansinha que nem ela so, e ficava chamando as outras mais selvagens,que pousavam desconfiadas bem em cima da gaiola prateada. Nao me contive e com um pedaco de pau cutuquei com forca aquele orgao vital que explodiu deixando um cheiro mais horrivel ainda pairando no ar. Depois subi o barranco escorregadio pois avistara uma bananeira em cacho. Como era linda aquela flor, com as bananas macas geometricamente lado a lado enfileiradas em circulo e na ponta as petalas e sepalas arrocheadas e perfumadas. Os marimbondos infelizmente tambem tinham notado a presenca elegante da bananeira carregada e pareciam helicopteros amarronzados voando em formacao de esquadrilha. Naquele dia lembro que levei umas boas ferroadas, mas como a fome era maior que o medo enfrentei-os sem sequer pensar no perigo. Alias ja conhecia a dor das picadas pois meses antes ao buscar uma bola que caira debaixo da casa do toninho filho da dona tereza vizinha do lado, eu havia por distracao e pressa de moleque dado uma cotovelada na escuridao e derrubado a casa dos coitados. Minha mae contou as ferroadas, foram doze nas costas e aquilo doeu tanto que so de lembrar ainda me doi. Alguem gritou coloca barro que passa, acho que foi o Ampelio, um rapaizao adolescente que morava na rua de cima quem deu a dica, mija em cima, acho eu que de sacanagem, porem no meio daquela dor latejante pouco me importava eu se mijassem ou ate mesmo cagassem nas minhas costas. Felizmente o barro foi ficando quente e secando, e da-lhe mais barro, que por sua vez secava quase que instanteamente e esturricava ao contato de minhas maos de menino. Nunca me esqueci dessa passagemem minha vida, assim como nunca me esqueci dos amigos da infancia, dos vizinhos, ate dos galos indios e das galinhas que ciscavam despercebidamente naqueles quitais maravilhosos, tudo parece que foi ontem, nas corredeiras do tempo e das aguas vermelhas do curtume do meu pai. N.A. Me desculpem os erros ortograficos e gramaticais, sao um pouco por minha parte outra pelo ipad no qual nao acho as cedilhas e os circunflexos, vai sem mesmo, sem correcao nem acento assim como as vezes nesta vida meio descedilhada e sem crases.

vrijdag 23 augustus 2013

Férias

A gente passa o ano inteirinho esperando pelas tais férias e fazendo planos prá ficar no bem bom sem fazer nada, de preferência debaixo de uma sombra gostosa deitadão numa rede, e pensando bem, sozinho, pois dividir rede não é comigo não, nem de solteiro, nem de casal, a gente já é obrigado a dividir tanta coisa boa e ruim nesta vida, eu cá comigo gosto de compartilhar apenas meus pensamentos aqui com voces, talvez ajude alguém por ai, talvez me ajude a mim mesmo, talvez não venham a servir absolutamnete pra nada, como tanta coisa supérflua neste mundao sem fronteiras. Mas este sou eu, eu e meus botoes, meus supérfluos pensamentos voltando de ferias da França. Quem ouve pensa; "que chique", chique porra nenhuma, acamapar em beira de rio, mesmo que este rio seja o Dordogne lá no vale dele não é moleza não. Prá mim me dá o Paranazão numa pescaria regada a cachaça com meu Querido irmão Mirtão, saudades dele. Mas com três filhos adolescentes grudados no celular o dia inteiro reclamando quem o camping mixuruca nem wifi tem, aliás, adolescente parece que gosta de reclamar de tudo, pô. Comprei umas varas e fomos pescar "forel", trutas penso eu. Os bichos pulavam prá todo canto enrugando as margens do velho rio milenar. O Chateu de Gibanel ficava lá à distância segura, taciturno e meio triste, como que observando as nossas peripécias assim com ar de meio desinteressado. Turista prá tudo que e lado; uma velha gorda pulou e deu um mergulho a uns 50 metros do meu anzol, falei pros moleques, "quer ver, vai sobrar pra mim, como sempre, vou acabar iscando essa gordona feia. Queria iscar era aquela francesinha morena que se bronzeava na prainha ali do lado, se bronzear prá que, já tá pensei comigo, se já está morena e linda demais assim desse jeito. Velho sacana acho que estou ficando, pensei comigo. Os peixes sumiram, o sol esquentou, um casal de alemães passou remando dentro de uma canoa alaranjada com um bebezinho de colo dentro, povo louco varrido, onde ja se viu, se aquela merda vira ou engancha nos anzóis e fura não dá nem tempo de resgatar a coitada da criançinha. A gordona deu umas braçadas mas logo desistiu de atravessar o rio; me fez lembrar de mim mesmo quando dentro de qualquer piscina, cheio de coragem tambem dou as minhas braçadas, no melhor estilo borboleta que um dia quase aprendi, água pra todo lado, mas fica so nisso, 25 metros quando chego na borda e não desisto bem no meio. Mas já fui nadador na minha juventude, até andei participando pela APEA numa competicão estadual lá em Botucatu. Com uns dez anos e uns 6 meses de natação já me achava o tal, tinha o cabelo verdinho de cloro, ai que tempo bom quando eu tinha cabelo, mesmo que verde de cloro; pensando bem deve ter sido aquela porra daquele cloro que me deixou carequinha pela vida a dentro ou afora. Comprei ate uma sunga vermelha e fui participar dos cem metros nado livre. Ainda lembro como fosse hoje, meu Deus do céu, raia número 6, fiquei esperando pelo tiro de largada. Um velho magricela de cavanhaque branco e chapeu gritou "às suas marcas", depois o barulhao em surdina daquela arma de fogo, que pra mim parecia de verdade, sei lá, talvez até fosse, o cavanhaque tinha cara de mafioso, desses de filmes. Pulei e sai dando braçadas em linha reta, ainda me lembro de ter virado no fim da piscina, depois tudo ficou meio nebuloso, o tempo foi passando, segundos, minutos talvez, quando levantava a cabeca e o nariz prá respirar dava pra ver os outros competidores se enxugando, alguns já mandando ver num bom sanduba e uma cola, outros em pé do lado da cantina conversando felizes com os pais e familiares. Eu estava sozinho em Botucatu, sem pai nem mãe, nem ninguém, do meu lado, caminhanbdo na borda da piscina, o tal cavanhaque que pela cara dele foi ficando meio sem paciencia com minha demora, e com o cronômetro na mão e acho que o revolvao na cintura me estimulava, ou gritava palavrões em Italiano; agora me esperava sentadão na raia numero 6 no final dom meus 100metros, que naquele momento pra mim pareciam mil, 10 mil, 100 mil, o tempo parou prá ambos naquele inusitado momento, naquela piscina em Botucatu, pra falar a verdade quase que desisti nos 75 metros, mas sou cabeca dura prá cacete até hoje, não gosto de desistir das coisas e acho que nunca estive nem ai com o que os outros pensem de mim, o cavanhaque que se foda e se quiser me espere que no fim eu chego lá, e cheguei, com minutos de atraso mas cheguei. Fiz o que pude dentro de minhas limitacões aquáticas, e pensando bem acho que merecia até uma medalhona de ouro pelo meu esforco quase sobre-humano. Quando finalmente cheio de orgulho bati com as mãozinhas de menino naqueles ladrilhos azuis e faixa preta de chegada e partida os outros competidores da próxima prova já estavam de touquinha e em posicão de partida, um japonesinho apressado quase que pula em cima de mim. O viado do cavanhaque estava de novo a postos com o revolve dele na mao direita, quando passei por ele ainda me deu uma risadinha de mineiro, "pô, moleque, pensei que ia se afogar!", me deu vontade de arrancar aquela arma da mão dele e dar um tiro bem no saco do bicho prá ele ver o que era bom.

woensdag 10 juli 2013

Homenagem ao Cocão

Tanta coisa nesta vida eu sei que deveria esquecer mas vivo sempre me lembrando delas. Às vezes debaixo do chuveiro, outras aparecem vindo do nada no fundo dos mistérios dentro desta cabeça carecona e cinquentenária numa caminhada sem rumo pelos bosques desta Holanda distante. A memória da gente é uma coisa incrível, misteriosa e paradoxal ao mesmo tempo. Hoje sei lá porque cargas d'água fui me lembrar do "Cocão" e dos passarinhos de gaiola dele. O Cocão era um vizinho que eu tinha na minha infância, com cara assim meio de meio bobão mas gente boa que nem ele só, passava o tempo acho que coçando o sacão dele debaixo de umas parreiras de uva na varanda daquele velho casarão de esquina. Lembrando bem acho que a família toda era meio religiosa,crente, a mãe gordona, o pai sempre de terno e gravata e as irmãs todavia bem com caras de puta. Mas o Cocão com aquela carona de vaca na horta dele era comedor de primeiríssima, passarinhava a mulherada da vizinhança inteira, acho que até a minha velha entrou no rolo, as coitadas no tanque, sempre suando às bicas, carregando compras de carrinho, varrendo aquelas empoeiradas calçadas do interior. Lembro dele com o cabelão engomado, uma calça de tergal acinzentada, camisa branca de colarinho abotoado e chinelas havaianas amarelas naqueles pezões enormes, mais de 45 cinco deviam ser aqueles pés gigantes. Os passarinhos dele eram os melhores da região, tinha bicudo, azulão que dava pulo de ponta-cabeça nos puleiros, maritacas maritacando sem parar, canários belgas cantadores de letra, do reino, do campo e sei lá mais de onde.Os meus prediletos eram uns pretões com a cabeça vermelha que se chamavam cardinais e os corrupiões amarelos que não sei porque a molecada os chamava de Jão Pinto, passarinho tão lindo com nome tão feio. Pensando bem o Cocão era, além de comedor de vizinhas, um ornithólogo de primeira, pois sabia o nome de todos os bichos, o comum que quase todo mundo já sabia de velho, mas principalmente os em latim, coisas de enciclopédia, "os trópicos" para mim naquela época. Foi nos Trópicos que fiquei sabendo das coisas bíblicas tão inverossímeis até então para mim, dos Astecas, dos Incas, da fusão atômica, do princípio de Arquimedes, e muitos outros que não me lembro mais, assim como as aberturas de xadrez e outros infinitos pormenores que aguçaram todavia minha criatividade infantil. Um dia um de meus irmãos passou por lá e colocou-os (os trópicos) dentro de uma maleta de couro e levou embora prá sempre, pois fora ele quem os comprara semanalmente em alguma banquinha de revista. Eu gostava de ler, mas nunca fui de comprar nada, principalmente xampú, será que ainda se escreve assim ou será que é shampoo como antigamente; mais um desses paradoxos meus, sou desde os 18 anos irremediavelmente careca que nem uma bola de bilhar, mas adoro usar xampú dos outros, se tiver condicionador dando sopa melhor ainda, deito e rolo. Va ga bunnnn do, dizia o Zé Galinha, onde será que anda aquele grande Zé, já mandei um email prá ele várias vezes e nunca tive resposta, acho que se esqueceu de mim. O Cocão, se ainda estiver vivo, também, porém eu confesso aqui que dele nunca me esquecerei

zondag 9 juni 2013

Lembrando de Londrina

A minha saudosa Londrina fez uma grande parte de minha história, da infância à juventude eu andei por tudo que era canto daquela cidade linda, sempre aprontando das minhas. Nunca vou me esquecer daquela primeira vez em que fui num velho ônibus daqueles monoblocos da Biriqüi de Pres. Prudente à Londrina; duas horas e meia de viagem, passando pelo Entroncamento de Rancharia, Usina de Capivara, muito canavial, muito café naquela época, Porecatu, Florestópolis, depois até Rolândia, Cambé, passando em frente do Parque Ney Braga, da Cacique, aquele cheiro gostoso de café queimado que ficou gravando prá sempre no fundo da minha memória. Eu gostava de sentar na janela e seguia contente observando bem as coisas, automóveis, pessoas e paisagem. Quando ele virava ali na avenida JK (se não me engano se chamava Rua Antonina naquela época), depois engantando uma segunda subia a Sergipe com o motor roncando prá burro e fazendo um barulhão quando o motorista trocava de marchas. Passava em frente ao Posto do Picolino e descia até na rodoviária velha, que naquele tempo era a nova! A velha-velha eu nunca cheguei a conhecer, não era do meu tempo. Ali prá mim tudo era novo, colorido, e tocava na tv aquela musiquinha legal "no nosso tempo tudo é novo e coloriiiido, não tem lugar para essa gente que já era, morcego velho, bang-bang de mentira..." Ah, como eu gostava de assistir desenhos, Túnel do Tempo, Viagem ao fundo do Mar, Perdidos no Espaço, a Pantera cor-de-rosa era horário sagrado qual missa lá em casa, tinha que ficar em silêncio absoluto senão o Maurício "cabeção" meu querido e falecido irmão ameaçava a dar porradas na gente, ou seja em mim, pois era o caçula. Tempo bom. Os verdes de Londrina parece que eram prá mim bem mais verdes, mais escuros que do interior de São Paulo, as cores mais intensas, o cheiro daquela argila roxa depois de uma chuvinha de verão não tem igual neste mundo. A liberdade que me dava aqueles meus passeios no Calçadão, que era uma calçadinha de nada ali em frente à Bolivar, depois descia até o Ouro-Verde. Gostava de matar o tempo sem fazer nada encostado em algum carro ali em frente às lojas Americanas, do lado daqueles quiosques, observando os engraxates fazendo o serviço deles e as meninas bonitas que desfilavam rebolando só para serem vistas. Meu primeiro beijo de verdade foi ali embaixo de uma daquelas àrvores leguminosas enormes com flores amarelas que tinha ali na práça. A menina era uma gordinha meio dentuça que parecia a Mônica dos Gibis. E se chamava Creuzinha, e gostava de beijar a gente que nem ela só. Não beijava só eu não, beijava a molecada toda, quem tivesse coragem. A Banda Municipal tocava um dobrado chamado "Sargento Fidélis", que o maestro, saudoso seu Arlindo, que por acaso era meu tio anunciava cheio de orgulho àquele público meio escasso. Um instrumento me chamou mais atenção do que todos os outros, era um "Bombardino", tipo de uma tuba daquelas enormes, mas menorzinho com um som mais agudo, e um velhinho de óculos soprava no bocal cheio de fúria uma espécie de contracanto, com os clarinetes, trompetes e saxofones fazendo a melodia. O maestro sorria prá gente cheio de orgulho e ao mesmo tempo marcava o compasso. Eu infelizmente nunca perguntei prá ele, e a vida toda fiquei cá comigo imaginando quem seria aquele tal de Fidélis e até hoje não sei.

donderdag 6 juni 2013

Uma pequena viagem ao passado

Ontem morreu a dona Nice, que o bom Deus a tenha! Eu sabia que ela estava bem velhinha mas não que estava doente assim. Nas férias no Brasil fiz o possível prá visitá-la, e atravessei dois estados só prá lhe dar um abraço, valeu a pena, e até andei tirando umas fotos dela junto do mesmo velho fuscão 72 do tio e coloquei no meu facebook. Nessa viagem visitei também muito cemitério, tentando mostrar para aos filhos as minhas raízes e deles também. Como diz o Mirtão, esses velhos são a bola da vez. Todavia, a nossa mesa está ficando cada vez mais vazia e as bolas vão se encaçapando uma atrás da outra. Infelizmente as figurinhas "carimbadas" da minha existência neste mundo estão sumindo prá sempre de circulação, ficando cada dia mais difícil. De um lado da família de tio sobrou só o "Nerso", coitado, dizem que tem problema de rim e tem que fazer diálise quase todo dia, mas grande pessoa, sujeito muito engraçado, o melhor contador de "causos" que já encontrei nesta vida. As estórias dele eram não só engraçadas, muitas delas creio eu até verídicas, porém tudo tinha um alto teor de improvisação, ele ia contando e mudando os nomes e as coisas de acordo com a cara do ouvinte. Eu era fã de cadeirinha dele. Quando ele aparecia lá em Londrina de férias vindo de Santa Catarina, a gente grudava nele. De ouvido em pé só esperando o bicho soltar o verbo. Eu até enforcava algumas aulas no ginásio, depois na faculdade prá ter umas aulas com o velho Nerso. Se tivesse um gravador naquela época teria gravado tudo aquilo e depois iria escrever um livro, infelizmente me esqueci de muita coisa de muito detalhe. E quando ele tomava umas no Natal e resolvia dançar. Uma vez apareceu na sala com o vestido da minha vó e lenço na cabeça, com uma vassoura de piaçava debaixo do braço. Aquilo era puro teatro, "happening", picadeiro e ele o melhor palhaço que já assisti. Minha mãe dizia que o bicho gostava de circo desde pequeno e quando algum circo passava lá pelas bandas de Bernardes onde eles moravam o Nerso sumia. Minha avó, coitada, tinha sair procurando pela próxima cidade pois o menino devia ter se escondido em algum caminhão e fugido com o pessoal do circo. Gostava de abastecer no posto do "Picolino", que também era um palhaço lá em Londrina. O posto dele ficava ali na subida da Sergipe, depois da Belo Horizonte quase chegando na Avenida Higienópolis. Eu adorava descer a Higienópolis à pé e ir curtindo os ipês-roxos e manacás da serra. Nessa época fazia ginásio lá embaixo no Vicentão, subia aquela avenida debaixo de sol e chuva com um enorme prazer na alma de moleque. Prá falar a verdade ficava esperando uma tal de Andréia que era uma morena esbelta e linda sair da casa dela com as apostilas roçando-lhes os peitinhos e ia o caminho todo vislumbrando aquelas nádegas maravilhosas e os ipês, também maravilhosos. Pensando bem, tudo era maravilhoso naquela época, até mesmo as aulas de matemática que o professor Oswaldo, um baixinho meio cabeçudo, mas bom de cálculos e der dar aula que nem ele só. Pena que já me esqueci de quase tudo, menos das frações, não sei porque gosto de frações e raízes, as quadradas mas principalmente as de família. Por isso que dedico aqui essas pequena viagem deste meu passado que parece tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe, à minha querida tia Nice, que encontre a paz do outro lado deste túnel, se bem que se o velho Marocão meu pai também tiver dando das dele por lá, assim como o resto do pessoal reunido, vai ter é muita festa.

dinsdag 4 juni 2013

"Falando em lóbulos"

Às vezes não gosto nem de pensar nisso, mas nosso bom português deve ter mudado demais depois desses anos todos, será que a velha orthografia ainda tem o "h" no meio ou perdeu o dela que nem a pharmácia? Espera aí, ortografia nunca teve o h no meio, ou será que um dia já teve, eu não sei mais e confesso aqui faço muita confusão, pois no holandês se escreve "orthografie", essas coisas lindas e complicadas devem vir do latin. Eu infelizmente estou muitos anos longe do meu querido Brasil e também vou perdendo aqui e ali os meus "Hs", mudando de lugar as minhas vírgulas, crases, meus circunflexos, e como nunca me comunico na língua matre até meu sotaque já devo ter desaprendido. Porque a gente desaprende muito mais rápido do que pensa as coisas que aprendeu nesta vida. É engraçado, tem coisas que faria tudo prá desaprender e não consigo, outras mais importantes vou desaprendendo paulatinamente. Manias, aquelas neuras bobas por exemplo, ai como eu as tenho até demais, mas quem não as tem? Toalhas molhadas mal penduradas no banheiro me dão arrepios, tapetes fora do lugar, com ponta dobrada, sapatos no meio de ponta cabeça, coisas fora do prumo me irritam, e nada como a vida prá desaprumar um pouco esta nossa existência. A vida e um par de filhos adolescentes. Esses parece que já nasceram com aquele dom de desaprumar, desdobrar, não pendurar tudo pela frente. Vão deixando aquele rastro deles por onde passam, na forma de copos usados vazios, canudinhos, latinhas de refrigerante, papel de balas, chicletes, pratos, talheres, meias fedidas pelo chão, no quarto deles até as cuecas rodopiam pelos cantos, dá um vontade louca de arrumar tudo mas a gente não arruma não. Eles que se virem, aqui na Holanda é assim. Outro dia, de sacanagem fiz uns furos nas dita cujas e deixei lá. Passado uns dias vieram reclarmar que as cuecas deles estavam todas furadas e tinha "traça" no quarto deles. Comprei aquelas velhas bolinhas de nafta, colocamos no armário e com um ar mais sério que pude completei, "traça gosta de andar e comer as coisas esparramadas pelo chão!". Sei lá se isso vai ajudar alguma coisa, mas valeu o ingresso só de ver a cara deles. Nunca tinha notado isso mas a gente fala com eles, eles parece que ouvem, porém passados alguns minutos já "desouviram" tudo. Li qualquer coisa na internet que o tal "lóbulo frontal" dos bichos ainda não está suficientemente desenvolvido, e o mesmo coordena essas partes importantes do comportamento. Pensando bem, os meus lóbulos nunca foram muito lá dessas coisas, antigamente até cascas de banana eu jogava escondido atrás do velho sofá de napa, a velha Dona Tereza queria morrer, coitada! As minhas sinceras desculpas, mãe! Hoje eu sei porque, não era eu mas eram os meus lóbulos! Prá falar a verdade eu tenho a impressão que não apenas os meus lóbulos estão se atrofiando um pouco, e quando vejo as coisas absurdas que a gente vê todo dia nos jornais acontecendo por este mundão de meu Deus, até parece que quase todos os lóbulos do planeta estão de alguma forma muito esquisita se atrofiando assim talvez prá sempre também.

"Pé de Garça"

Aqui com meus botões. Nunca pensei em passar dos cinqüenta, passei e graças à Deus estou forte e firme; pensando bem nem tão forte nem tão firme, mais ou menos, às vezes prá mais, outras prá menos, ou seja como todo mundo por aí, levando a vida e ela nos levando. Reclamar de barriga cheia prá que, mais ou menos já tá bom demais, diria o Mirtão. E o Mirtão sabe bem das coisas, pode perguntar que ele responde no ato. O que não souber acho que o bicho inventa ali na hora, inventa mas inventa bem, pois eu sempre acreditei nele. Opaaa, palavras cruzadas e nome de árvores é com ele mesmo, conhece toda flora e fauna brasileira como ninguém neste mundo, na palma da mão, na ponta da língua. Um dia atravessando o Paranazão de balsa ele apontou prá mim uma árvore branquinha, branquinha aparecendo lá longe no horizonte. O barco foi chegando perto de mansinho, e a tal da árvore começou a tremer, esvoaçar sob o sol tal qual uma miragem no deserto, só que não era deserto mas acho que era do lado Mato Grosso aquele lado das águas. Anyway, o Mirtão ia do meu lado uma por uma dando consecutivamente os nomes das dita cujas das árvores, ipê-roxo, ipê-amarelo, pau-disso, pau-daquilo, algumas eu conhecia, outras só em livros de botânica que infelizmente só vi as fotos, de repente a paisagem se esbranqueceu, ficou tudo silencioso, quase mudo, parou o vento, parou o tempo, parou meu pensamento, prá depois virar um alvoroço daqueles, que infelizmente não consigo aqui em palavras descrever, mas alvoroçou gostoso, bonito, um alvoroço não de gente, pois alvoroço de gente eu nunca curti muito, mas foi um alvoroço desses da natureza, parecia filme desses da "national geografic", mas não era filme pois felizmente ninguém filmou, pois se alguém tivesse filmado não fariam sentido algum essas minhas parcas linhas mal-escritas, acho que nem o Mirtão teria sido o mesmo, pois cheio de moral iria ter olhado a tal câmera e dado umas de ator, e eu como sempre teria me escondido debaixo da barra de alguma saia ou em algum bom canto onde as lentes não me encontrassem, porém confesso aqui, aquele foi um momento lindo, lembrando bem acho que já faz tanto tempo que a internet ainda nem existia, nem celular, muito menos Ipad, mas o Mirtão táva lá, e ali do meu lado cascou logo em cima catedrático que nem ele só e bem alto prá todo mundo em cima da tal balsinha ouvir, "pé de garça!"; se não existir eu gosto de pensar que ele criou ali naquele inusitado instante um nome perfeito para aquela árvore maravilhosa e era só prá mim, milhares de garças brancas em infinitos cachos floridos e sobretudo alvoroçantes, e balançando, balançando, ou será que era a porra da balsa que balançava, balançava sem parar, sei lá, já faz tanto tempo e nem eram garças nem nada as tais das aves mas outro bicho qualquer, que apenas empoleiradas tentavam dormir o sono delas e a gente tinha as acordado, pois passarinho é que nem galinha, dorme bem cedinho que nem eu. Pô, já são oito e meia, acho vou ligar pro Mirtão lá na loja antes de dormir, que horas será que são agora lá no meu Norte do Paraná, cinco menos que aqui na Holanda acho, nunca entendi muito bem esse negócio de fusos, horário de verão menos ainda, mas eu sei que é aniversário dele hoje, pois tenho anotado dentro desta velha cabeça oca e careca, precisamente dez anos a mais do que eu, 60tão! Parabéns Mirtão!!

donderdag 30 mei 2013

"A gente vévi!"

Quase todo sábado de manhã eu pegava o ônibus Londrina-J. Santo Amaro. Quando chovia era um puro barro arroxeado que teimava em grudar nos sapatos da gente e manchar prá sempre as barras das calças de tergal reformadas que a Dona Tereza passava assoviando e deixando um vinco perfeito. Saudades das minhas calças de tergal, ternos cinzas do Marocão meu pai, saudades da minha mãe e do capricho que ela tinha com a gente nas coisas mais corriqueiras que hoje ainda me lembro. Nunca mais usei calças de tergal, todavia ainda sinto o cheiro do amaciante de roupas que ela usava e que ia se misturando com o do pó-de-serra que o cobrador narigudo jogava nos pisos do circular, creio que prá ninguém derrapar e quebrar o pescoço debaixo da roleta. Um dia vi uma velha gorda levar um tombão feio, entrou toda apressada e ofegante, tropeçou em alguém e caiu de bunda, derrapando que nem uma bola de boliche, levando quem tivesse pela frente de roldão. Teve gente que riu, eu fiquei com um pouco de pena dela, coitada, mas graças à Deus não quebrou nada. Eu me lembro todo engomadinho esperando sem relógio o circular das 12 horas. Era nesse que vinha o seu Chico, um mulatão de meia idade de óculos que era o motorista do fim de semana. Eu levava debaixo do braço um saquinho plástico das lojas americanas, dentro dele os sapatos engraxados, pois os de amassar-barro até a boca embarreados latejavam os meus pés vermelhos. Sim, eu fui e ainda sou londrinense de pé-vermelho, meu coração quer bater mais forte só de lembrar do cheiro daquela terra roxa no verão depois de uma chuvinha fina, o perfume gostoso de um cafezal todo esverdeado florindo branquinho, branquinho. Mas do pó-de-serra molhado dos pisos do circular não tenho saudades nenhuma. Do velho Chico, dele sim. Eu entrava pela porta dos fundos, porém quando o ônibus estava vazio e ninguem no ponto esperando ele me deixava entrar pela da frente sem pagar. Gostava de ir batendo papo, e eu de me sentar sozinho naquela poltrona do lado dele. A conversa era sempre a mesma, se chovia era a chuva, se fizesse sol era o calor, entrecortados pelo rádinho de pilha do narigudo sempre sintonizado bem alto num tal programa "cadeia", onde um imbecil esbravejava como um louco, talvez um pouco com razão até, "cadeia, cadeia, prá esses vagabundos!". O cobrador curtia, olhando prá gente e sorrindo. Mas a parte mais legal daquelas lembranças dos sábados embarreados e felizes da minha juventude era quando eu cordialmente, só prá modo de puxar conversa, perguntava ao velho motorista como ia a vida, ele abria um sorrisão do tamanho do sol de Londrina depois de uma tempestade, desses que o tempo passou e nunca mais ningúem me sorriu nesta vida, e dizia contente: "Ai fio, a gente vévi!".

woensdag 30 januari 2013

Fragmentos de uma viagem

Como o tempo passa! Tudo mais parece um sonho que a gente continua sonhando assim meio acordado. Pesadelos, paisagens, jardins floridos, praias ensolaradas, fogos de artíficio, loucuras pirotécnicas absurdas, tanta juventude perdida nos escombros de Santa Maria. Toda esta absurdidade do ser humano muitas vezes infelizmente chega a me revoltar. Outro dia, depois de mais de quarenta anos, também voltei à minha cidade natal, Presidente Prudente, interior de São Paulo. Viajei quase 12.000 km daqui da Holanda até lá e passei como um relâmpago por ruas taciturnas numa manhã qualquer de verão. Desta vez não fui no velho ônibus da Birigüi via Porecatu, mas no luxo de um carro alugado em São Paulo. Minha esposa foi do lado, com um desses "IPads" de última geração tirando fotos de tudo que encontrava pela frente, era caminhão velho, "é pau, pedra, pedaço de toco, toco sozinho", Kombi caindo os pedaços, borracharias de beira de estrada, queimadas, canaviais pegando fogo, andarilhos, tudo era novidade prá ela naquela manhã pedindo chuva pelo amor de Deus. Eu dentro de mim pedia proteção por mim e minha família, pelos amigos, inimigos, enfim, proteção Divina prá tudo e todos ao meu redor. Quando a gente parou no Entroncamento de Rancharia prá abastecer e dar um mijadinha, eu dei uma dura nela, coitada, que era prá parar com aquela fotografação desvairada que iriam acabar lhe roubando o tal computador fotográfico cor-de-rosa. Da Castelo até ali já tinha tirado 1278 fotos do caminho, mais da metade meio tremidas e foras de foco. Passei por um viaduto novo e avistei o Posto Rio 400. Tentei me focalizar também. Ando meio desfocado da vista e com o passar desse tempo que não pára, também do coração. Acho que a saudade também desfocaliza a gente. E ter saudade é comigo mesmo. Vá sentir saudades assim lá na casa do chapéu. Como já não me lembrava mais onde o dito cujo morava peguei uma rotatória meio sem rumo certo e acabei circulando pela Avenida Brasil e dando de cara com o Parque do Povo. Falei pros meninos, "ó, o seu Mário, avô de vocês trabalhava num matadouro ali perto do frigorífico Bourdon". Um tirou os olhos do celular dele e me deu um sorriso meio ingênuo, o outro continuou grudado no jogo da internet. A esposa tirou mais uma foto de mais uma Kombi, desta vez alaranjada com bagajeiro em cima e uns colchões amarrados com cordas de nylon azul. Sei lá porque ela tem dessas manias, deixa ela, gosta de comprar chinelos havaianas e tirar fotos de Kombi, ué!? Nesta viagem comprou 6 pares diferentes e fotografou umas 367 Kombi. As derradeiras debaixo de chuva rumo ao Aeroporto de Guarulhos. Cada louco com suas manias. Quando fico feliz assovio, geralmente desafinado naquela melodia meio medieval do "Greensleeves". Assoviar limpa a alma da gente. Subi a Rua Rui Barbosa onde nascera em 1963 com o coração querendo ficar mais apertado. Ia dirigindo o Corsa e tentanto em vão absorver todas aquelas infinitas mudanças nas casas, casarões, portões, mangueiras carregadas, fiações de luz, valetas d'àgua nas esquinas. Pô, não me lembrava mais, como aquela cidade tem valetas fundas nas esquinas, há que se tomar muito cuidado senão fica sem escapamento e com furo no Carter. Quando avistei a rua Mário Simões, rua do meu avô e do meu querido pai, foi me dando um nó no peito. Acho que as lembranças foram demais naquele momento, deles, do Mauricião meu irmão que faleceu afogado na juventude, minha mãe no fogão, dos amigos e de tudo que ficou ali um dia vivido na memória de um moleque do interior. Passei em frente do muro azul do Seu Zarpa, que era o gol de nossas peladas. Quase que deu prá ver o velho Zarpa de pijamas listrados saindo à contragosto do fundo de suas penumbras só prá dar dura na gente, querendo furar as bolas de capotão com uma faquinha de pão. Hoje eu sei que era tudo de brincadeira, só teatro, pois o seu Zarpa era no fundo um cara legal, mas a gente enchia bem o saco dele. Me deu uma vontade esquisita que veio das entranhas descalças daquele menino de outrora, queria ter um pedaço de tijolo, um giz ou carvão prá escrever bem grande naquele murão centenário; "seu Zarpa bicha!" , apertar a campainha cinco vezes junto dos meus meninos e depois sair correndo como um raio ladeira abaixo, quem sabe a esposa não tirava uma foto dele de pijamas no Ipad dela. Ah como eu queria ter uma foto dessas, só uma, daqueles momentos maravilhoso de minha infância que dinheiro nenhum deste mundo pode comprar. Na altura do nr. 1322 onde um dia fui colocado neste mundo dei uma paradinha. Lembrei dos meus irmãos mais velhos me tirando umas "você foi achado dentro daquela lata de lixo ali ó, era bebezinho, a mãe pegou de dó prá criar!". Moleque é um bicho danado prá inventar estórias. Só que passei vários anos, bobo, acreditando naquele papo furado deles. Era só aluguel. Aquela casinha azul de venezianas acinzentadas não, aquela era nossa, meu pai tinha mandado o tio Chico pedreiro contruir. Acho que foi contruindo aos poucos, comprando material fiado e fazendo, pois dinheiro hoje eu sei que ele não tinha, coitado. Seis filhos colocados neste mundo e mais um da lata prá criar não deve ter sido moleza. Mas minha mãe criou todo mundo, e hoje graças à Deus ainda estamos aqui criando também os nossos. Descemos do carro, os moleques fotografando tudo sem parar no celular deles, minha filha no dela, a esposa mandando ver no Ipad e eu à procura de mim mesmo, de tudo de que ficou um dia por ali, das minhas raìzes, fragementos de uma história ainda por se contar...