maandag 25 april 2011

Mais um ano que passou por mim

Ontem eu fiz meus 48, parabéns Joe! Quem nasceu no interior desse nosso Brasil lá nos idos de 1963 sabe bem do que estou falando. Minha família era naquela época bem pobre todavia mais ou menos feliz. Meu velho, que se me lembro bem só chegou a completar os 48 dele depois se foi daquela prá melhor. Bebia demais aquele homem, eu nunca tive a chance de bater um bom papo com ele sobre o porque dessas coisas. Mas eu sei que eu também bebia bastante, mas tubaína. Era louco por tubaína e pão feito em casa. Assistia meus programas favoritos numa tela preto em branco que minha irmã mais velha comprou no primeiro emprego dela. Era o túnel do tempo, perdidos no espaço, viagem ao fundo do mar. Nunca gostei de novela, mas assisti e curti até o finalzinho o meu pé de laranja lima. O pessoal dizia que eu parecia com o Tilim. Depois veio a copa de 70, o Pelé, Jairzinho. Tostão, Gerson e todo aquele povo maravilhoso da única seleção que eu aplaudi do fundo do meu coração de menino. Meu velho assistiu junto comigo, eu assisti com o meu velho. Ambos repletos de expectativas, numa mistura de orgulho e prazer, por estar ali pertinho um do outro naquele momento sublime,  naquela salinha empoeirada, ele com a cervejinha dele na mão direita eu com a minha tubaína cristalina na minha esquerda, o cheiro de pão quentinho saíndo do forno e o aparelho phillips ainda sem antena externa com um pedaço de bombril improvisado servindo de antena.

donderdag 21 april 2011

Pensando e traduzindo

Eu sempre gostei das figuras de linguagem, principalmente dessas onomatopéias da vida . Detesto hipérboles e gente que hiperboleia pelos cotovelos. Mas como falo outra língua, na qual eu penso, sonho, tenho os meus pesadelos e  tesões, até dou as minhas poucas e eventuais trepadas em holandês, não posso deixar de me pegar de vez em quando tentando comparar com as coisas da minha quase esquecida maravilhosa língua portuguesa. Eu sei que é bobagem minha e não existe comparação mas a gente vive comparando as coisas em vão por este mundo. Por exemplo, cachorro por aqui faz waf, waf, galinha tok, tok, porco knor, knor. Vaca eles chamam de koe (e se pronuncia cu). Holandês é sem dúvida alguma um idioma  muito esquisito. Só Deus sabe porque eu fui amarrar o meu burro por estas bandas. Mas pode deixar, um dia eu volto. Se não voltar vou por enquanto bem devagarinho matando estas saudades do jeito que der por aqui neste blog.

woensdag 13 april 2011

Um pensamento qualquer sobre a juventude que acaba de passar correndo por aqui

Quando eu ainda era pequeno e andava por aí  descalço correndo atrás de bola, o mundo era e não era, mas parecia só meu, o passado apenas mais uma página em branco, o futuro pertencia a Deus, e eu vivia as coisas do presente como tudo deveria ser vivido. Tempo bom! Depois o mundo foi mudando dentro e fora de mim e nunca mais parou de mudar. Diziam que tinha me preocupar com o "futuro", vencer na vida, e dessas coisas certas e erradas que a gente aprende nos bancos da escola. Aos poucos as minhas páginas foram ficando repletas de tinta, algumas azul-escuras, ou engarranchadas à lápis, outras escurecidas pelo breu da minha história e da história dos outros ao meu redor.
Acontece que o presente foi logo se misturando com o passado e o futuro acenando prá mim sem parar com suas miragens coloridas. Hoje em dia parece que meus pensamentos não param mais de navegar nas águas desse meu passado, gente que já morreu, tesões antigos, amores esquecidos, rugas do tempo que passou e continua a passar em mim.
São como velhas canções esquecidas que de súbito emergem de alguma sombra qualquer dentro deste coração esquisito e vêm me trazer alegrias ou melancolias. Talvez isso seja decorrente de algum passado coletivo que a gente um dia habitou junto, coisas da juventude, dos nossos "Clubes da Esquina". Mas ontem me lembrei do Raul e da "metamorfose ambulante" dele. Passei o dia dentro de mim cantando em silêncio e tentando em vão apagar as minhas velhas "opniões formadas sobre tudo".

dinsdag 5 april 2011

Língua enferrujada, sonhos e saudades

A dona Tereza, minha saudosa mãe, que Deus a tenha, vivia me dizendo que eu sempre tive as respostas na ponta da língua. Era verdade, a minha língua era afiada e cortava como uma navalha. A velha, coitada, queria que eu  virasse padre ou entrasse na política. Eu gosto de rezar meus pai-nossos de vez em quando prá ela, mas nunca gostei de padres, igreja, político então nem se fala. Pensando bem, devo ter decepcionado a minha querida mãe e muitas outras pessoas em milhares de coisas. O tempo passou e nunca namorei nem me casei com uma japonesa, pois era um dos sonhos preferidos dela, sei lá, queria porque queria ter netos mestiços, achava bonito e pronto. Meus filhos são mestiços porém holandeses, não é igual mas até que são bonitinhos, só que falam uma língua que infelizmente ninguém da família entende. Fazer o que? Minha mãe foi embora prá sempre, ficou apenas mais um pedaçinho vazio gravado em mim, a saudade sem fim queimando dentro do peito, esta minha língua meio enferrujada ultimamente, e a vida que passa como um raio roendo os sonhos da gente.

maandag 4 april 2011

Com pena de mim

Acontece que eu tenho andado meio triste ultimamente. É uma tristeza assim sem motivo aparente, que vem chegando de mansinho sem avisar a gente. Talvez seja apenas a saudade de todos que se foram e de tudo que passou nesta vida assim tão de repente e que nunca mais vai voltar. Devagarinho parece que estou perdendo aquela alegria toda que eu tinha comigo e que dividia com quem tivesse ao meu redor.
Alguem me disse que é a crise da meia idade. Os sonhos que eu tinha vão se perdendo nas brumas desta realidade cada vez mais sem sentido. É que sempre fui um grande sonhador, um puta dum cabeça nas nuvens. A poesia me mostrava o caminho e eu simplesmente a seguia. A música este ímã que me prendia, soltava, animava e às vezes ainda desanima.
Acho que a gente nasce assim deste jeito e não tem como querer mudar.
Ontem vi o Ivan Lins na tv daqui num desses programas bobos de conversa fiada jogada fora. Ele envelheceu tanto quanto a nossa juventude. Mas estava feliz, com os dedos envelhecidos acariando o mesmo teclado e alma cantando contente as coisas de nossas raízes, mesmo que ninguém tenha prestado atenção ou entedido nadinha daquele papo sincopado dele. A mulherada holandesa na platéia ficou olhando com cara de boba, tentando em vão batucar junto nos braços das cadeiras. A música demorou bastante prá terminar, eu confesso que perdi um pouco o fio da meada, mas falava de uma mulher que era dele ou tinha sido. Fechei os olhos e fiquei pensando na Lucinha Lins de biquini. Minha esposa me acordou lá da cozinha que era prá lavar a alface e cortar a cebola. Abri os olhos repleto de saudade e melancolia, porém dentro de mim cantei o refrãozinho do Ivã:  "this women is mine, but this women is mine". Não sei porque, mas fiquei um pouco com pena do Ivan, das mulheres sem ritmo da platéia, da minha fritando a carne moída dela, enfim, um pouco com pena de mim mesmo...

vrijdag 1 april 2011

Lembrando da Euta

Outro dia eu li um texto de um rapaz falando sobre as diferenças entre o chato, o chato de galocha, o pentelho, o mala, até o xarope, do qual eu não ouvia mais falar dele já fazia tempo entrou na conversa. Na hora eu não tive a chance de comentar, e agora infelizmente não me lembro mais do título ou quem o escreveu. Mas o texto era bom.
Fiquei aqui meio escondido, mas com "saudades" pensando nos grandes chatos desta minha vida. Quem será que foi o campeão? Na hora me veio à cabeça o grande Fioca e uma japonezinha feia de morrer que alguém apelidou de Euta (a Eutanasia). Se aqueles dois tivessem dado as mãos, teriam conquistado o mundo inteiro. Suas chatices eram sem tamanho, sem limites, extrapolavam qualquer chatômetro ainda não inventado.
O Fioca queria porque queria namorar ou comer a minha irmã, coitada. Ele aparecia lá em casa todo santo domingo com flores, bombons sonhos de valsa, e ai meu Deus como era difícil se livrar dele. Um dia falou prá mim que estava economizando papel higiênico prá quando fosse se casar. Ele era meio louco, e muito mas muitíssimo chato. A gente vivia se escondendo dele, mas o bicho sempre nos encontrava, nos locais e situações mais impossíveis e inesperadas. Escrevia poesia, mas era ruim demais, publicava os livrinhos dele e depois rumava pro calçadão da minha cidade, prá vender os versos dele pros coitados dos transeuntes apressados, conhecidos e desconhecidos. Eu falava milhões de vezes prá ele que o meu nome era Miguel mas ele teimava em me chamar de Manoel.
Deu trabalho, e não sei como a minha irmã se livrou daquela praga, mas a coitada acabou se casando com um outro quase tão chato, aliás prá falar a verdade, um banana, que resolveu trocá-la por uma mocinha mais nova, deixando os três filhos adolescentes prá trás. Não sei se foi coicidência, mas ela ficou tão triste, mas tão triste que acabou pegando uma doença, deu-lhe um tumor na cabeça e morreu aos cinquenta anos. Eu tenho saudades da minha irmã.
Agora do grande Fioca e da Euta ! Ela foi a primeiríssima, a grande campeã. Vai ser chata assim lá na casa do chapéu. O japonesa chata. Não me lembro mais o nome dela, mas era mala, chata, carrapata.
Um dia fui visitar a minha outra irmã rica em São Paulo e resolvi dar uma chegada lá naquele centro cultural que ficava ali no finalzinho da Paulista. Alguém me disse que lá tinha todas as partituras dos choros do Pixinguinha e dava prá copiar tudo na hora. Eu gosto muito de chorinho, e até hoje ainda tento em vão tocar o velho Pixinga.
Estou lá na minha, no anonimato de minhas cópias quando de repente ouço um "Hello!!?!" meio suspeito. Estava na capital, milhões de almas rodando sozinhas por ali naquela hora. Nem dei bola. Até o momento em que senti um cutucãozinho no meu ombro direito, dei uma virada assustado, e lá estava ela, em carne e osso, a Euta, toda feliz da vida por me "encontrar" no meio daquela multidão.
Estava uma vez falando de chatos, jogando conversa fora e contando isso prá uma amiga, a qual na verdade eu queria era dar uns malhos, quando a moça de repente me fez parar no meio do papo e falou: "Pelo amor de Deus, é a Euta, essa japonesa não, ela é muito chata!!".
E depois seguiu em frente com a versão dela: "Pois é, eu tinha saído prá visitar uma amiga, que morava numa chácara ali no final da Avenida Higienópolis, e tinha um pé de jaca carregado, não é que o velho pai dela me cisma de dar uma jacona prá eu levar prá casa. Tentei me esquivar, fiz de tudo, mas ele forçou tanto a barra que tive que levar aquele fruto enorme embrulhado num jornal.
Estava fazendo um sol infernal e pensei em jogar o raio da jaca no lixo, ou em algum terreno baldio, mas depois fiquei com remorso, o velho tinha feito tanta questão. Era domingo, e prá cortar caminho resolvi subir a Higienópolis, que naquela época era a rua dos "boyzinhos", das cocotinhas, dos bares lotados e das motocicletas. De óculos escuros atravessei a calçada e fui andando o mais rápido que podia, quando de súbito alguém me pegou pelo braço. "Hello, o que cê tá levando escondido embrulhadinho aí?" Era a Euta, tentei disfarçar prá não passar vexame. Ela não se deu por vencida e gritou bem alto prá todo mundo ouvir: "Quer apostar, é uma jaca, olha é uma jaca, gente! Ela tá levando uma jaca embrulhada aí nesse jornal!!"