maandag 28 maart 2011

A minha rua

Deserta e fria,
na minha rua
inverno e gelo
se me silencia,
no silêncio da
lua meus olhos
procuram o sol
na neblina nua
que se mistura
a meus desertos
silêncios, versos
invernos em mim...

Ensacando o sax

Ensacando o Sax 
Às vezes até que me esqueço todavia, outras me lembro com bastante saudades, todas as coisas que já fui ou já fiz nesta vida comprida, cheia de curvas, rodoviárias, alegrias e tristezas sem fim.
Já fui bancário do antigo Banespa, agrônomo, bom de bola, cabeludo, roqueiro, motoqueiro, puteiro, não, mentira rima boba minha, até que já tive vontade de ir, mas nunca fui a uma zona de verdade, o Naka, amigo meu, pelo contrário, vivia indo, falava que era legal, conhecia por nome, todas as putas da região, um dia até arrumou prá gente fazer uma apresentação com a nossa banda lá. Eu tava quase indo, mas o baterista, que era da igreja presbiteriana independente se recusou, e com razão, onde já se viu, a moçinha cantora, namorada dele também, e sei que acabamos não indo. Talvez tenha sido melhor assim. Saudades do Naka, eu tinha centenas de amigos, dos quais hoje em dia, nunca mais tive notícias. De vez em quando me pego pensando neles.
A gente gostava muito de dar umas de músico também, porém a única vez que tocamos em público, foi um grande fiasco. Uma vergonha daquelas. Não vou dar os nomes de verdade das feras, pois hoje em dia, acredito que talvez sejam homens "respeitados" aí no Brasil, escritores, jornalistas, sei lá mais o quê, pode pegar mal.
O "Rei" apareceu, todo empolgado lá no banco, e disse que tinha arrumado um restaurante legal, prá gente estreiar com a banda, era um desses "happy hour", e já tinha combinado com a dona, o cachê e tudo mais, era na sexta-feira, das seis às oito da noite. Queria mandar até imprimir um poster com a foto da banda.
Eu bem que tentei convencê-lo do contrário, pois a gente só tinha ensaiado o "Summertime", em dó menor, era o único que eu sabia tocar no saxofone, e ainda por cima, desafinava um pouco, prá falar a verdade desafinava e bastante. "Não, mas tá legal, você improvisa em cima, Migué (naquela época tinha gente que me chamava de Migué) fica bom", mas como, vou ter que improvisar duas horas em cima do summertime? Não, Rei, não vai dar liga. Mas ele estava resoluto, já tinha arrumado até um nome pro grupo, "Sacando o Sax" (lembra dessa, Rei?, nome que até gostei.
Na sexta-feira passei na casa dele e do Maurão, baterista, ou melhor atabaquista.
Apareceu também, alguém com um baseado, acho que foi o Cansado, ou a Creuzinha uma secretária gostosa que tinha lá no banco, e eu fui, todo mundo foi, pois naquela época de estudante, todo mundo ia. Quem não foi perdeu essa boca. O Rei, quando fumava, se encanava com o espelho, passava horas trocando de roupa, combinando e descombinando tudo de novo. Ainda por cima, a gente tinha que participar, dar palpite, " e essa camisa ficou legal?". Ficou legal, sim, foda-se Rei, vamo logo que tá quase na hora do show, pô!
O coitado do Maurão, não achava a tal vossourinha do atabaque dele, tinha perdido, e andava prá lá e prá cá meio desorientado. E dá-lhe de procurar aqui, ali, debaixo da cama, dentro do armário, na cozinha, nada.
Eu já de saco meio cheio, tentei resolver o problema, "pega a vassourona do banheiro mesmo, essa de limpar a privada, ninguém vai nem notar, bicho!" Contrariado, mas muito doidão, ele lavou aquela porcaria debaixo do chuveiro, e lá fomos nós, babando verde, pro restaurante "A lareira" da coitada da mulher.
Chegamos lá, tinha uma ceguinha cantando, até bonitinha toda de branco com um vestido meio transparente, voz muito bonita, afinadinha, mas era música sertaneja, acho que em playback.
A dona pediu prá moça parar no meio da música, pegou o microfone e anunciou , agora com vocês o famoso grupo "Sacando o Sax!" Todo mundo aplaudiu. Subimos pro palco.
O Rei tentou afinar o violão "janninetion" dele, e já quebrou a corda mizinho, logo na primeira virada da tarracha.
"Pô, Migué, e agora, não tem outra?" "Vai assim mesmo, ué, com cinco cordas, tá bão, dá prá tocar, Manda ver. Rei!"
O Maurão contou, no atabaque, um, dois, três, e a gente começou o Summertime.
Ele curtindo, de olhos fechados, balançava o cabeção ao ritmo da vassourona, que ao invés de fazer, o ttchch, ttchch, ttchcch, como deveria fazer uma percussão jazzística normal, acentuando o segundo e quarto tempo, fazia um pplofff, pplofff, ppofff , descompassado e meio surdo, eu não aguentei aquilo, e comecei a rir, e você já viu, rir tocando um instrumento de sopro vira merda, desafina tudo, os sons mais horríveis que já ouvi na vida, sairam daquela boquilha naquela sexta-feira. O Rei também não aguentou, olhou prá mim e caiu na gargalhada também.
A dona do restaurante, muito diplomática, pediu, gentilmente, prá gente cair fora, disse que o nosso som era muito "prá frente", muito avant garde.
Enquanto eu viver, jamais vou me esquecer disso, chegamos, todos cheios de moral, "sacando o sax", e fomos embora rapidinho, morrendo de vergonha, "ensacando o sax".