vrijdag 28 november 2014

Lembrando minha mãe

Hoje minha querida mãe estaria fazendo aniversário se estivesse aqui com a gente. Todavia, foi muito cedo, cedo demais como tantos outros amigos e familiares que poderiam ter ficado mais um tempinho aqui na Terra. A vida vai passando, os ventos vão soprando, o tempo vai correndo, o inverno vai chegando na Holanda. Os pardais vão e vem, bicando apressados as sementes de girassol que minha esposa pendurou no quintal. As hortências se apagam no jardim debaixo da janela, coitadas, só sobraram as flores descoloridas e quase secas, com o gramado sumindo por debaixo folhagem amarelada ontem caída e espalhada pelo chão. Resquícios dos pés de milho se debatendo ao vento gelado, sementes que cheio de esperanca fui distribuindo na primavera, assim meio ao acaso dentro dos vasos de flores da Sabine. Um jardim é ao mesmo tempo transitório e perene, se recolhe, adormece, quase morre de frio, prá de novo nascer meses depois quando o sol brilha mais forte. Talvez sejamos todos jardins, somos sementes de milho, raízes superficiais e fasciculadas, fazendo de tudo prá se firmar neste sagrado chão. Não é qualquer ventinho que nos balanca as folhas, às vezes caímos mas temos os caules duros e ao mesmo tempo flexíveis, parênquimas teimosos, não é qualquer seca que nos faz desistir. Que esfrie, que vente, que chova demais, enxurradas torrenciais  não nos lavam a alma, somos monocotiledôneos, gramíneos, perfilhamos e seguimos em frente cada um com sua cruz, cada um com sua missão...
Porém sofremos, choramos, enterramos nossos mortos, que continuam todavia vivendo prá sempre dentro de nossos coracões, assim como a dona Tereza, que prá mim está fazendo mais um ano de vida, pois a vida não passa, não morre, adormece, perfilha e se transforma...

dinsdag 25 november 2014

Se a gente falasse a verdade no facebook

Até que seria legal poder falar a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade nos facebooks da vida. Ao invés de clicar em cima, sem sequer se dar ao trabalho de ler,  aquele tradicional "eu gosto", sair prá tudo que é canto que nem um louco clicando "eu detesto", " eu acho uma bosta", "de novo isso!", " vá te catar!",  até inventar um clique "cara chato, pentelho" para diferenciar uns e outros  que pegam pesado demais, e passam o dia,  acho que sem fazer nada, todavia, impunemente por detrás de seus respectivos laptops copiando e colando sem parar parar, mensagens à torto e à direita na tela da gente.
Fico imaginando as conversas e cada frase, " lindíssima, arrebentou!" (puta, como ela tá gorda, parece uma baleia!!). "Que charme" (Tadinha, ô mulher feia, essa só sobrou o bagaco!). "Que lindo o teu apartamento novo!" (Vá ter mal gosto assim lá na casa do cacete, meu!). "Puxa, que delícia de bolo, me passa a receita, viu?!" (Essa aí agora pensa que é cozinheira, isso não tem cara de bolo, nem cresceu, parece uma pizza, deve ser duro e ruim de um tanto...). "Que foto mais liiinda!" (Com fotoshop até eu). "Legal, curti, demais esse vídeo!" (Detesto música sertaneja). "Parabéns, manda prá mim que vou ler o teu livro!" (Ai meu saco, como esse cara tem o papo compriiiiido, e só escreve do passado e de gente que já morreu). "Prima, que gostoso ver a família assim unida!" (Unida uma ova, viviam era se pegando). "Poxa, não sabia que a Holanda era tão linda assim!" (Tão linda assim e tão fria, eu hein, tô fora, frio de matar!). "Curti, que bicicleta legal!" (Pô, vai saber lá porque esse cara agora deu de postar fotos de bicicletas velhas?). "Como a dona Hermelinda está bem, meu Deus, tá igualzinha, não mudou nadinha, que saudades dela! (Ué, não morreu ainda? ô véia mais chata, quando eu era pequeno me dava vassourada, xingava a gente, furava as minhas bolas quando caiam no quintal dela, rabugenta e ainda por cima era fedida, como fediiia aquela velha, tá parecendo uma múmia...)
Eu sei que não pode, que isso jamais vai acontecer na prática, só na cabeca da gente,  mas seria legal se a gente falasse um pouquinho da verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade...

maandag 24 november 2014

Sonhos Atalaícos

Como é bom sonhar! Sem os sonhos da gente a vida talvez não passe de uma realidade das muito chatas. Eu sempre gostei de sonhar, principalmente acordado, ficar em vão imaginando as coisas mais inverossímeis deste mundo acontecendo ao meu redor e dentro de minha cabeca.Infelizmente,muitas vezes o sonho é como uma "nuvem passageira que com o vento se vai, e eu sou como um cristal bonito que se quebra quando cai..." Quem se lembra daquela música? Eu quando menino adorava ouvir e cantar, pois diariamente tocava na rádio Atalaia de Londrina, e eu ficava me imaginando assim todo molhado me dissolvendo como um castelo de areia na beira de um mar, que todavia ainda nem conhecia de verdade, só de fotos e das cenas quentes das novelas da globo de então, a Sônia Braga de biquini, beijando o Antônio Fagundes, que quisera fosse eu. Ah, ah, depois alguem escrevia meu nome numa pedra, mas eu já sabia, desde aqueles tempos ancestrais,  que essa pedra em pó iria se transformar. Era uma pedrona dessas bem grandes, um pedregulhão dentro do sapato da gente, no meu próprio caminho, mas pensando bem era de uma grande poesia singular aquela letra, e a melodia tinha um balanco contagiante, assim como a vida da gente também nos balanca e contagia, e às vezes nos carrega bem pra longe em nossas tempestades. Porém os ventos do tempo que nunca param os nossos moinhos...Eu cá comigo, não posso fazer nada, por algum descuido do destino nasci assim sonhador, e sonhar é o que sei fazer de melhor. Sonhar e acreditar na vida, no amor, na paz, na harmonia, na evolucão do ser humano, na elevacão de nossas almas aos planos mais altos, enfim, na esperanca de um futuro muito mais que melhor para este mundo...

woensdag 19 november 2014

Ausências e beijos

A minha esposa um belo dia resolveu recortar todas as minhas fotos antigas da perdida juventude de outrora, onde o velho Migué, naquele tempo ainda jovem, fogoso e cheio de orgulho, fazia alguma daquelas poses assim meio sem jeito lado de alguma namorada com um pouco mais jeito que ele. Hoje fui arrumar minhas gavetas e num assombro vislumbrei aquelas relíquias infelizmente prematuramente decaptadas com uma tesoura meio cega daquele lindo dia para todo o sempre.  Lembro dela, minha esposa, sentada na varanda do Mirtão num domingo ensolarado, minha filha pequenininha do lado, com a respectiva tesourinha dela nas mãozinhas, ambas curtindo excitadas da sua própria maneira. Eu tomava uma gelada e estava tão exausto das enxadadas que tinha dado lá na terra roxa daquela chácara, quem nem me importei, ainda falei corta sim, pode cortar pois isso tudo é passado, águas que não movem mais moinhos. Todavia, me deu um friozinho na barriga quando ela decaptou a Giselinha, com uma tesourada bem no meio do pescoco, ficou no chão recém enceirado da varanda aquele vestidinho estampado dela, um pedaco dos ombros à mostra, e resquícios daqueles lábios de mel, retocados com baton sabor de morango que um dia beijara com tanto fervor. A Mônica foi pro lixo com roupa e tudo, a Jaqueline sumiu prá sempre de uma vez,  aquela moreninha escriturária do Banespa, coitada tão linda, saiu definitivamente de minha vida numa recortada só. O Mirtão se levantou prá ir até o freezer buscar mais cerveja ou dar uma mijada, a tarde foi se ausentando de leve em Londrina, com os Bem-te-vis lá no alto dos postes em seus ninhos improvisados, entre o concreto e os fios de eletricidade, anunciamdo que iria chover. A minha juventude também foi se ausentando aos poucos de mim, ficaram os abracos quase esquecidos, mãos dadas com um buraco vazio, beijos na pura ausência...

zondag 16 november 2014

Ode a um poeta desconhecido

Poeta desconhecido,
Versos esquecidos
Nas páginas de um
Caderno qualquer,

As palavras escritas,
Porém, nunca lidas,
Momentos, mágoas,
Teu viver, teu rimar,

Poeta desconhecido,
Sonetos entristecidos
Rabiscos, versos num
Caderno qualquer,

As lágrimas escritas,
Porém nunca lidas,
Pensamentos, águas,
De teu solitário mar,

Vens navegar comigo,
Por oceanos sem fim,
Entre os dois mundos
Fora e dentro de mim...

Cochilos galísticos

O meu velho amigo Hans veio ontem me visitar, está aposentadão e mora perto de Limoges na Franca já há vários anos. Grande lateral direito, uma locomotiva diesel nos campos de futebol enlameados e cheios de neve das várzeas holandesas. O Hans é uma dessas pessoas que tem o dom de fazer a gente rir, à mim pelo menos. Tempos atrás teve um ataque cardíaco, coitado, bem no meio de umas de suas escapadas atrás de algum ponteiro esquerdo. Desmaiou ali mesmo, e por sorte paasava alguém que tinha feito um desses cursos de primeiros socorros e o reanimou até a ambulância chegar. O Hans quase morreu e o cirurgião que o desentupiu as veias disse que foi um milagre.
E milagres acontecem, eu acredito neles, pois é um milagre estar vivo aqui, escrevendo essas bobagens que escrevo, pensando essas bobagens que penso.
A esposa exagerada foi quatro vezes ao supermercado e voltou com sacoladas  e mais sacoladas de frutas,  as quais magnificamente colocou em exposicão em uma bandeja bem no meio da sala. O Hans acho que nem notou. Chovia muito, sentamos no sofazão, abrimos as garrafas de vinho tinto e relembramos nossas glórias passadas correndo atrás das pelotas. Futebol sempre foi prá mim. Uma paixão, porém para o Hans acho qu é muito mais, um culto ecumênico, uma forma de religião.
Sempre foi assim, infelizmente vai chegando nove horas da noite e vai me dando sono, comeco a bocejar, respirar fundo, vacilar, perder os fios da meada.
Hans reclamou que as galinhas do seu quintal não botavam mais, até xingou feio em holandês as coitadas das aves. Perguntei se era o mesmo galo que tinha, aquele gordão carijó, que prá mim tinha cara de bicha, ô galo cheio de trejeitos, como diria o Mirtão esse galo foi, é, ou um dia vai ser!
Papo vai, papo vem, minha mulher se gabou que eu sabia tudo sobre galos de briga, que os houvera criado em minha juventude lá nos tempos de Londrina. Pronto, a esposa do Hans é uma dessas francesas que não se contentam com explicacões simplificadas, e tive que inventarizar os pormenores de minhas experiências galísticas avícolas.
Ganhara emprestado um galo de um vizinho muito rico que morava do lado da frente de casa. Como tínhamos um terreno muito grande e vazio, com apenas algumas galinhas caipiras ciscando
tranqüilas, seu João me emprestou seu galo índio campeão de mais de 21 lutas nas rinhas proibidas
do interior de São Paulo e Paraná. Nunca vi galo mais lindo e orgulhoso como aquele. Entrou no novo terreiro como um conquistador, abanando as asas vermelhas enormes e  cheio de si mesmo cantando forte e afinado, um canto que dava prá ouvir quarteirões de distãncia, apavorando de medo todos os outros galos concorrentes da vizinhanca.
As nossas galinhas caipiras e as branquelas de granja parece até que faziam fila, ciscavam excitadas em volta dele como que a espera de algum convite para uma grande farra, uma grande orgia. O galão galã passeava altaneiro pelo palco daquele meu teatro insólito, eles nem se davam conta de mim, eram os atores principais, aquele menino pobre e sonhador era apenas mais um expectador...
Notei que o papo desinteressava Hans, mas a francesa queria saber mais, os pormenores das lutas, das rinhas, dos rebolos. Que idade que eu tinha, como treinava meus galos, o que acontecia com os que perdiam as lutas. Sabe, gosto de escrever, mas não de falar muito de minha vida para os outros, ainda mais se for em outra língua, holandês por exemplo. Busquei na memória descolorida as cores e
nuancas de meus galos índios, a tessitura caleidoscópica de seda de suas penas das costas, a
musculatura rígida e firme daqueles atletas do meu passado. No fim foi gostoso lembrar disso, acho
que a moca ficou boqueaberta com todo aquele súbito conhecimento galístico. Notei que o velho
Hans cochilava um pouco. Eu também queria fechar os olhos e me esquecer de tudo, dormir trezentas horas talvez. Porém as noites foram feitas para serem curtas demais, talvez assim como a vida da gente, que vai passando como um vôo, tal qual meus galos índios  e os cochilos do Hans...








vrijdag 14 november 2014

Saindo do Armário e bobagens fitológicas

Literalmente falando saí do armário. Não consigo mais me esconder atrás de pseudônimos outrora inventados. Relatar, escrever sempre fez parte de minha vida, todavia, pouquíssima gente teve o prazer ou desprazer de me ler. É algo assim como ir desamarrando nós quase cegos que se embaralham nessas curvas de rio por debaixo desta cinquentenária careca brilhante. Uma ou duas pessoas me enxergaram de verdade por entre as milhares e milhares de outras almas quase literárias quanto a minha. Uma delas foi uma portuguesa professora de botânica na universidade. Devia ter uns sessenta e tantos, era magrinha, quase sumia, mas sempre bem cuidada, de unhas feitas, maquiagem, elegante e ao mesmo tempo brava como ela só. Botânica me interessava muito, mas futebol mais ainda, basquete, música, poesia, sem falar nas meninas bronzeadas de biquini nas piscinas da vida.
Pensando bem, confesso aqui, fui um desses camaradas que passou pelas escolas esperando pelo sinal.
A prova era sobre fotossíntese e absorcão radicular ou qualquer coisa do gênero. Eu havia lido os xerox emprestados rapidamente no ônibus, do Castelo Branco ao campus universitário. O anfiteatro era imenso, lotadíssimo, umas cem pessoas, aquelas cadeiras geladas que doem a bunda da gente, e feitas apenas para destros. Os canhotos que se virem, que se entortem todos, já são tortos mesmo. Fazia um calor infernal, o ventilador um barulhão daqueles. Eu estava apaixonado por uma japonesinha da fisioterapia, a Aniko, que menina meiga, e marcara um encontro na lanchonete. Fui o primeirão a terminar e sair correndo da prova. Entreguei meus rabiscos à portuguesa e corri rumo à porta. Não deu tempo de chegar nem na metade do corredor e ela gritou lá debaixo, abanando o meu teste como se fosse um leque, "miguelangelo, fizeste uma prova miserávelll!" Todo mundo rachou a rir, tem gente que até hoje quando encontro na rua ainda parafraseia a velha portuguesa com seu sotaque engracado. Fiquei encabulado, estava quase lá fora quando ela completou " muito bem sei que não sabes nadinha, mas tenho que te dar um 5,5 pois escreves tão bem!"
Passei pelas botânicas da vida, a velha portuguesa com certeza já deve ter até morrido, que Deus
a tenha, coitada, gostava de ler as bobagens fitológicas que eu escrevia, não sei porque fui me lembrar disso agora...