woensdag 3 december 2014

Aos pés do Pessoa

Hoje uma mocinha holandesa, via facebook de um amigo, veio me pedir prá dar uma lida num poema do Pessoa e dar o meu parecer na traducão de uma palavra para o idioma holandês. Ela estava estava meio em dúvida, coitada, e isso eu bem que entendo, pois vivo também em dúvida, o Pessoa parece que era uma dúvida bem grande só, basta se dar ao trabalho de ler. Nessas coisas eu sou meio do contra, pois sou da opinião de que certas maravilhas deveriam jamais ser traduzidas. Quem quiser ler o Fernando Pessoa de verdade que vá beber a água da fonte, pô, dormir abracado com ele e com um bom dicionário da língua portuguesa. Todas as tentativas são vãs, infortúneas, é o mesmo que assistir um bom filme inglês ou francês traduzido em laboratório de estúdios da Globo no Brasil em português. Quem não comhece aquelas vozes sempre iguais, monotónas, imensamente chatas, geralmente com um leve sotaque meio carioca, com sons esquisitos lá no fundo, a macaneta de uma porta que gira depois que aporta se abriu, passos no escuro, diálogos bobos tentando imitar o original, as vozes dos galãs que não se sintonizam deveras com suas bocas. Os caras até que tentam, coitados, fazem de tudo, dão o melhor de si, mas sempre achei isso um crime muito grande. É melhor assistir uma boa novelinha de verdade.
Mas fui lá, li a tal poesia da mocinha e do Pessoa. Todavia, se tem alguém com o dom de escrever um universo todo no espaco de algumas entrelinhas foi esse homem, ele desliza pelo ar com seus coloridos, como que surfando nas ondas de um oceano literário somente dele, ignoto, hermetético, místico, quase às nossas mãos, porém  muitas vezes inacessíveis para sempre, pelo menos prá mim. Algumas coisas eu até que entendo, noutras fico boiando legal mesmo, mas gosto de deixá-las desentendidas, misteriosas, às vezes passo décadas sem ler nada dele, mas quando o leio um encantamento inacreditável repleto de magia assim de repente toma conta de mim. Esse homem era um mágico literário do nosso idioma pátrio. São caras como ele, como o Drumond, que me fazem orgulhoso de ter nascido brasileiro e falar quase a mesma língua.
Penso que certos mistérios deveríamos deixar do jeito que são, não por as mãos, apreciá-los apenas em sua plenitude. É a mesma coisa de tentar descrever o pôr do sol. Não existem palavras, por mais lindas que o sejam que lhe chegue sequer aos pés...




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